segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O turismo que frustra

Angela Klinke é uma jornalista jovem com trajetória de trabalho que lhe garantiu experiência e a creditou para assinar uma coluna quinzenal de “Tendências” no caderno EU& do jornal Valor Econômico. Em 2011 escreveu seu primeiro livro, “Luxo e Crime” (Leya, 2012) que trata de temas como sonegação, falsificação e outros e que teve como base o “Caso Daslu”. Foi uma das idealizadoras da coluna Blue Ship do jornal Valor Econômico. Klinke não é uma jornalista de gabinete. Começou na Jovem Pan como “repórter do ar”, falando do trânsito. Passou pela” “IstoÉ”, “Play Boy” e “Caras” e cobriu vários eventos no exterior. Tem mestrado na área de “marcas de luxo”. Falo de Angela Klinke porque na edição do dia 16 de janeiro de 2013, em sua coluna no jornal Valor Econômico ela escreveu matéria sob o título “A constante frustração de ser turista no Brasil”. A jornalista relata uma experiência vivida na cidade de Salvador, Bahia, onde não funciona o Elevador Lacerda (duas cabines em reforma em plena temporada e 45 minutos na fila para entrar no elevador), não tem vinho branco ou bacalhau no mais luxuoso hotel da cidade no sítio histórico do Pelourinho e uma cidade na qual os próprios garçons recomendam cuidados com os taxistas que “são todos malandros”. Para Klinke isso se repete de Norte ao Sul do Brasil. “Você não vai ser bem informado, não vai ser bem atendido e não vai pagar barato. Para se divertir, vai ter que não pensar nisso.” Entre os problemas que o turista enfrenta no Brasil ela aponta os preços: 7 reais por uma cerveja long neck e 14 reais por um pacote de 200 gramas de batata chip no frigobar do hotel. E para ter acesso às informações históricas e culturais? Esqueça. Guias profissionais não aparecem e no seu lugar meninos mal informados dizem muita bobagem sobre locais e personagens históricos com prejuízo para os estrangeiros que nem dessa suposta informação podem desfrutar. A jornalista aponta ainda a criação dos resorts, há décadas, como uma alternativa para um turismo de melhor nível e que hoje passam também por uma fase difícil de muitos cortes nos serviços e, como resultado, na qualidade. Profissional que entende de luxo e, portanto, de qualidade, Angela Klinke toca num aspecto que muitos profissionais do turismo, agentes públicos e simpatizantes do lulismo, teimam em não enxergar: a má qualidade de nossos serviços. Não se trata de “falta de mão-de-obra treinada”, velho discurso que domina os congressos e eventos da área desde os anos 1980 e que conheço bem dos meus tempos de Senac, em São Paulo e na presidência da Associação Brasileira dos Dirigentes das Escolas de Turismo e Hotelaria (ABDETH). Nada disso. Já registrei aqui as falhas primárias dos lócus turísticos da cidade de São Paulo, por exemplo. Ações ordenadas de limpeza e conservação de praças, são vitais para uma melhor impressão ao visitante. Cansei de vivenciar problemas no entorno de novos centros de convenções em diferentes capitais do país. Pior, problemas também dentro daqueles próprios, com gente ineficiente na operação de equipamentos ou ar condicionado que não funcionava. Empregados mal uniformizados, lixo acumulado nas cidades, praias sem banheiro (por que as praias não têm banheiros, Santo Deus?), comidas suspeitas, garçons e taxistas “espertos”. Os arautos do populismo\nacionalismo dirão que “essa é a cara do Brasil”, que “não somos cheios de manias de limpeza como estadunidenses ou rígidos nos horários como os suíços”. Uma estupidez, com certeza. Tudo o que o consumidor quer é a entrega daquilo pelo qual ele pagou. E não há quem queira pagar por maus serviços, ruas sujas ou larápios institucionalizados. O Brasil não pode ser comparado a desconhecidas ilhas caribenhas onde o risco faz parte do passeio na perspectiva do custo\benefício. Não é assim. E não é, primeiro porque aqui os serviços são caros e segundo porque o conceito do país, mundialmente, vem mudando. E começamos a ser vistos como um país mais comprometido. Mas vêm aí os “eventos do século”: a Copa 2014 e as Olimpíadas 2016. Pessoalmente não me assusto com esses acontecimentos. Acho que a demanda, para a Copa sobretudo, será muito baixa, o que pode atenuar um pouco questões como transporte, trânsito, hospedagem etc. Mas os maus serviços serão os mesmos. Nossa hospitalidade está longe daquela imagem de “brasileiro cordial”, muito longe. Basta que tenhamos um olhar menos complacente com nossos aeroportos, seus serviços e seus preços, os das passagens incluídos. Basta que olhemos sem complacência para as nossas cidades grandes que não têm banheiros públicos e cujas placas de sinalização muito pouco informam. Para sintetizar tudo: o Metrô de São Paulo, o melhor do país, carece de boa sinalização e tem vários pontos cegos, sem câmeras de segurança. Parafraseando a jornalista Kllinke: “Não são necessários 90 minutos de futebol no futuro. O pior já é hoje.”

2 comentários:

  1. Professor
    Há muitos anos peguei um taxi em Salvador paa ir pro aeroporto. Ao notar que se o taxi corresse um pouco, poderia pegar um outro avião que sairia mais cedo, pedi pro motorista apressar. O taxista olhou pra mim e disse
    "-O qua há de ser, será!"
    e continuou naquela tocada digna de uma tartaruga tetraplégica. Ele teve a pachorra de parar o carro num posto para abastecer. Eu naquelas alturas, relaxei e ví que não tinha jeito, aí o motorista virou pra mim e disse: -"Mas se der tempo ganho uma caixinha?"
    Eu respondí com todo cinismo:
    -"O que há de ser, será!!!!"
    Ele deu um largo sorriso, e largou o pau, cheguei na hora pra pegar o avião que partia mais cedo, e ele ganhou a gorjeta.

    Hélio Higuchi

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  2. E tem muito mais.
    Aquela praia famosa, Itapoã, é uma imundice assim como o Jardim de Alá, onde depois das 20hs só tem puta e viado circulando.
    Fui a um restaurante no bairro da Ondina e nãoi tinha cerveja gelada.Aquela molelada vendendo lembrancinhas só falta te agarrar, te puxar , o diabo.
    Taxi do aeroposto pra cidade, tudo ladrão.
    O diabo é que ainda assim valeu a pena.Pelo menos no Sofitel o tratamento foi muito bom.

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