terça-feira, 27 de julho de 2010

O (de) crescimento do Turismo

O Banco Central informou que o saldo dos gastos de turistas brasileiros no exterior versus os gastos dos estrangeiros no Brasil resultou num saldo negativo de quase 909 milhões de dólares em junho deste ano. Esses cálculos comparativos foram iniciados em 1947 e, de lá para cá, esse foi o maior déficit mensal já registrado. No semestre o saldo negativo foi de 4,11 bilhões de dólares. Não é pouco. Um montante desses dá para investir em muita infra-estrutura que ajudaria o turismo doméstico e o receptivo para os estrangeiros. Ao invés disso, o que se vê são turistas assaltados, feridos em explosões e outras forma de agressões que nem sempre chegam à imprensa. Nem a Musa da Copa, a boazona paraguaia Larissa Riquelme, foi poupada. O turismo, como a educação, é tratado na superficialidade. Na educação o lulismo criou universidades e não deu a mínima para a educação de base. Nos anos FHC investiu-se muito no Nordeste como o novo Portão de Entrada no país. Mas foi só na forma de financiamentos para a iniciativa privada. A infra-estrutura nem sempre foi lembrada. E o Nordeste é carente de estradas, esgoto, aeroportos, segurança alimentar e segurança pública. Quando se investiu nos aeroportos, já no tempo do lulismo, o fizeram mais nas estações de passageiros, o que está certo, mas se esqueceram das pistas e equipamentos de segurança. Bem, se pensarmos que só agora, de olho na Copa de 2014, a Infraero vai equipar o aeroporto Franco Montoro (Guarulhos) o maior do país, com instrumentos para pouso cego, nos daremos conta do descaso. Dá para acreditar? E por que as Olimpíadas no Rio de Janeiro? Vamos colocar os tanques nas ruas de novo? Haverá um pacto entre o Estado de Direito e o Estado de Facto dos fora da lei? Ou vão chamar o Silvester Stallone? Ele tem uma opinião formada sobre o Rio, que ele acha que é o Brasil... Nada contra as viagens dos brasileiros para o exterior. Viajar nos lapida a mente, nos dá alegria e possibilita comparações. Viajar é educar-se. Mas o Brasil pode atrair mais estrangeiros de perto, da Sudamerica, pelo menos. Visto por operadores estrangeiros como um Long Haul Destination (destino longe dos emissores) o Brasil tem muito a investir, primeiro, em suas condições de receptivo e depois investir em programas de longo prazo e maciços em promoções no exterior. Isso inclui também o cinema como ferramenta de divulgação conforme já tratamos aqui neste espaço. As campanhas para o turismo doméstico, por outro lado, são episódicas. Não se leva a sério essa atividade econômica que gera muito mais empregos por unidade de valor investido do que a indústria de chão de fábrica, por exemplo. União e Estados não dão a mínima para suas infra-estruturas. Minas Gerais, com tantos atrativos turísticos é a campeã em mortes nas estradas. As praias do Nordeste não são acessíveis por terra para os grandes emissores do Sudeste. As estradas são perigosas em todos os sentidos. E nem banheiros decentes têm. O lulismo sempre foi refratário a concessão de rodovias para a iniciativa privada. Fez muito pouco e mal feito. Por outro lado, Estados e prefeituras poderiam investir mais para divulgar seus atrativos, mas não o fazem. Ao redor da cidade de São Paulo, por exemplo, há muito que se visitar, onde comer e divertir-se. Muito mais do que a média das pessoas sabe. Esse turismo doméstico é que deve (precisa) crescer. As cidades de vocação turística têm que se repaginar, pensar criativamente e investir. É a melhor maneira de trazer para os seus cofres o saldo dos turistas que viajaram para o exterior.

domingo, 18 de julho de 2010

Modo de Vida

O Estadão de domingo, 18/07/2010 trouxe matéria sobre o consumo de marcas de vestuário no interior e cita cidades como Jundiai, Ribeirão, Araçatuba e SJ do Rio Preto.
Trata-se de uma constatação sobre um estilo de vida dos segmentos de alta renda dessas cidades que vêm, com o tempo, se moldando ao processo "globalizante" da informação e do consumo.
Esses segmentos com alto poder de compra sempre foram bons consumidores e viajantes, sobretudo nos tempos em que esse tipo de consumo era coisa para privilegiados uma vez que não havia crediário para bilhetes aéreos e passeios pelo exterior. A moda feminina nessas cidades, que tinham na pecuária e agricultura o cerne de suas economias, sempre foi atualizada. Isso acontecia já nos anos 1960/70 do século passado através das compras que esses segmentos faziam pessoalmente nas boutiques da então famosa Rua Augusta ou nas congêneres do Rio de Janeiro. Senhoras das sociedades locais que tinham prestígio montavam suas boutiques no interior trazendo essas novidades para aqueles que frequentavam os ambientes tidos como chiques nas suas cidades e que não dispunham de tempo e recursos para comprar em Copacabana no Leblon ou Augusta, suas próprias roupas. E ainda vendiam a prazo, o que facilitava a inclusão da pequena classe média no mundo dos pecuaristas endinheirados. Era o tempo de festas de debutantes.
Os anos 1990 ganharam a abertura dos portos e as senhoras das boutiques, em São Paulo ou no interior, puderam utilizar seus cartões de crédito no exterior, dividir seus bilhetes em dez pagamentos e aprenderam a ser sacoleiras de luxo em NYC ou nos Mall da Flórida. Viajam com uma pequena bagagem de mão e na volta vendem até as malas que abrigam suas compras. Globalizamos a moda via sacolas.
De há muito as cidades interioranas têm a sede de imitar as grandes metrópoles. Começaram erguendo edifícios verticais em cidades onde o valor dos terrenos era baixíssimo e permitia belas construções horizontais. Depois vieram os calçadões, a sede pelas lojas de departamentos, hoje traduzidas em Casas Bahia e outras do gênero. No ano 2000 os condomínios fechados, ruas especializadas em comércio e Shopping Centers fecharam o ciclo da "cara de cidade grande".
Diferente das cidades próximas a São Paulo e Campinas (Valinhos, Vinhedo, Sumaré, Atibaia, Bragança Paulista, Itatiba e Indaiatuba) que tiveram sua expansão urbana através de condomínios fechados e cuja característica dos moradores é a de stay at home people entendido como aquele morador que não sai de casa porque tem de tudo lá (home theater, quadra, piscina, churrasqueira etc.), os moradores de cidades como São José do Rio Preto, Presidente Prudente e Araçatuba, são frequentadores de seus bares e festas porque pertencem a uma sociedade mais ativa e de raízes com mais de meio século nas suas comunidades. Naquelas cidades todos sabem de tudo sobre todos. E se frequentam. Já os stay at home que estão perto dos grandes centros são vizinhos recentes, pouco se falam e, pior, na sua maioria, fazem um trajeto diário cansativo entre São Paulo e/ou Campinas e região e suas casas. A moda e o lazer estão mais fáceis e acessíveis para esses stay at home, cerca de 50 minutos do Iguatemi de São Paulo ou 20 minutos do mesmo Shopping em Campinas.
O dinheiro nessas cidades mais distantes da capital e ligadas à economia do setor primário fica na ponta da pírâmide, mas não é pouco. E a comodidade de obter os produtos de sonho de consumo das mãos de uma conhecida sem passar pelo trânsito, pelos demais riscos e ser atendida com tratamento pelo primeiro nome ou apelido, faz com que essas mulheres do interior promovam um comércio que para muitos pode parecer arriscado. Mas pode não ser, como mostra a matéria no arquivo anexo. Afinal, Kotler sempre disse que, mais do que satisfazer as necessidades do cliente, é preciso encantá-lo. Essa clientela, com certeza, está encantada.