sábado, 24 de novembro de 2012

Natal, aqui e lá

Fui ao supermercado. Era uma visita rotineira de reabastecimento semanal. Mas algo estava diferente. Havia um sorriso no rosto das pessoas que não era usual. Não, não se trata de minha imaginação. O sorriso estava lá, movimentando-se na boca das moças do check out e dos meninos que ajudam os clientes a empacotar suas compras. É o mês do Natal. Lá estavam os acessórios da decoração natalina, mesclados aos produtos à venda, com cores e cara de Natal. E é só o começo. Vi árvores naturais e artificiais, Papai Noel, bonecos, bolas, guirlandas e tudo o mais para a decoração da data cristã. Lá estavam as bandejas de frutas secas e castanhas prontas e embaladas, como sempre estiveram no decorrer do ano. O que diferenciava essas bandejas era a decoração natalina e às vezes uma bandeja com material mais ousado. Embalaram as frutas frescas “para a ceia”, quando ainda não terminou o mês de novembro. Estão certos. É preciso criar a atmosfera. Eis a razão para as alegres músicas natalinas que tomam conta do ambiente. Vi pelo menos dois casais que gingavam com seus carrinhos ao som das músicas. Um deles bem jovem e o outro bem acima dos cinquenta. Claro, é Natal. Não, nesse supermercado não havia um nicho para o bom velhinho. Os nichos estavam reservados para os vinhos sudamericanos, alguns produtos enlatados e panelas de ferro modernosas. Sim, dirão, e qual a novidade no clima natalino? Trata-se de uma estratégia que melhora a cada ano desde a segunda década do século XX. E os estadunidenses foram os mais rápidos nesse processo de aperfeiçoamento. Foram eles os primeiros a criar o papel especial para os presentes natalinos com motivos da data, os primeiros a oferecer os nichos do Santa Claus para que as crianças pudessem falar com o velhinho e pedir um dos presentes de suas lojas, os primeiros a promover as decorações animadas em suas vitrines, muito embora os ingleses também mantivessem o costume desde o século XIX. Andar pelo comércio de Nova York às vésperas do Natal (melhor, desde o Thanksgiven) é uma experiência pela qual deveriam passar todos os que estudam ou trabalham em qualquer atividade de marketing. É preciso ver de perto a Christmas Season. A atmosfera natalina é surpreendente. As vendedoras bem humoradas usam bijuterias com motivos de Natal: unhas com desenhos de bonecos de neve, brincos com renas ou Santa, broches com estrelas de presépios. As músicas que embalam as compras fazem fundo com o aroma de canela que lojistas borrifam sem parar nos ambientes. Nas ruas grupos cantam canções típicas para angariar fundos ou mendigos imitam o ho ho ho do bom velhinho e arriscam alguma canção para que moedas caiam em suas latas. Porteiros bem vestidos em seus sobretudos estão firmes às portas de seus prédios, sob um aquecedor acolhedor. O cheiro da comida de rua é uma mistura gostosa com castanhas assadas e pretzels quentes, mais os bagels, o salmão defumado, os sanduíches de pastrami, o hot dog com muita batata e as fatias de pizza compradas nas “vitrines” espalhadas pelas ruas. E esse cenário não se limita a Manhattan, senão por toda a cidade. O Natal é a data máxima do consumo, embora os cristãos mais ortodoxos se queixem de que o mundo anda esquecido do aniversariante do dia 25 e mais focado no marketing. Devem ter razão já que as pessoas compram com sofreguidão nessa época (ah, basta ver as invasões às lojas nos noticiosos da TV, como na Black Friday). Criar o clima natalino parece mais fácil do que promover campanhas ao longo do ano para motivar compras, claro. Mas nem por isso carece de menor ciência. O varejo estadunidense pensa o ano todo no Natal e suas campanhas. Cada detalhe que possa motivar a compra é pensado, examinado e avaliado. Muito antes da temporada natalina já se pensa nas campanhas de descontos que sucederão à grande data, descontados os dias das trocas dos presentes que não deram certo. Empresas se especializaram nas decorações da época e têm todo um esquema de montagem, desmontagem e armazenamento do material. Muitos especialistas estão envolvidos nesse tipo de trabalho: arquitetos, decoradores, engenheiros, pessoal de TI, operários que trabalham nas alturas, eletricistas, seguranças e um sem fim de profissionais. O Natal em NYC é um atrativo turístico, como começa a ser em São Paulo. Dei uma olhada sem muita seleção e vários sites vendem de tudo nessa bela temporada. Vejam, por exemplo, esse http://www.nyctourist.com/xmas_in_nyc.htm Estatísticas, históricos de vendas, cenários econômicos e estimativas de vendas orientam o grande varejo que trabalha o Natal com olho no Valentine´s Day, na Páscoa, o Dia das Mães e por aí vai. Lá como cá, os profissionais responsáveis pelo marketing celebram o Natal com um olho nos presentes e outro nos resultados. E se sairão bem (a gente espera), obrigado. Feliz Natal!

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

São Paulo não é NYC

Em setembro passado fui com três amigas para um passeio dominical turístico no centro velho de São Paulo. O programa incluía uma missa com canto gregoriano no mosteiro de São Bento, um brunch no Café Girondino e uma visita à Mostra Impressionista no Centro Cultural Banco do Brasil. Fomos de Metrô, a partir da Vila Madalena. Tudo lembrava muito um desses passeios que se faz no exterior. Metrô vazio, limpo e rápido. Mas a partir da chegada à estação São Bento a paisagem começou a mudar. O entorno da estação estava sujo. Em frente à igreja do mosteiro, um canteiro com a terra esturricada continha plantas ornamentais recém-plantadas e também secas e sofridas, via-se com um olhar leigo. O prédio do mosteiro é imponente. E a entrada de sua igreja também. Nas grandes capitais do mundo, igrejas antigas e seu entorno recebem tratamento especial. Tudo é limpo, tem placas indicativas, serviço de informação e policiamento. Não tenho o que registrar quanto ao último item. Todo o centro velho estava bem policiado, com oficiais e suas motos. Mas a sujeira e o descaso com a área pública era notório. Curiosidade: vimos duas equipes de filmagem em locações no centro velho naquele dia. Em julho, acompanhando uma prima carioca, visitei o Museu da Língua Portuguesa e depois o mercadão. A viagem de trem, a partir da Barra Funda durou sete minutos e tudo estava absolutamente limpo. Ao descer na estação não encontramos uma boa sinalização, mas os seguranças nos deram informações corretas para chegarmos ao museu. E foram eles que nos ensinaram também como chegar a pé ao mercadão. (E se eu falasse apenas o francês?) As ruas não têm sinalização indicativa da direção do Mercado Municipal para os pedestres, donde se conclui que a prefeitura não vê aquela região como um roteiro turístico. O entorno do mercadão também merece reparos. Não há lixo esparramado, é bem verdade. Mas poderia ser mais limpo e melhor sinalizado. É importante que no estacionamento e nas faixas de pedestres tenhamos pessoas uniformizadas prontas para dar informação. O mercado municipal é um dos pontos turísticos de maior demanda na cidade de São Paulo. Faltam também, no ambiente interno, placas indicativas e um balcão de informações onde alguém fale, pelo menos, inglês e espanhol. Japonês também seria importante. Também no mercadão o policiamento é grande e inclui a Guarda Civil Metropolitana. No feriado de Finados a visita foi ao MASP. Dessa vez não foi preciso usar o Metrô. Com a cidade vazia e outros programas no roteiro, o trajeto foi mesmo de carro com a possibilidade de estacionar na rua. Desnecessário comentar sobre a beleza do “maior vão livre da América Latina”, como se tratou por muito tempo aquele espaço do museu ali na Avenida Paulista. Mas pela imponência daquele lócus cultural, o desleixo chegava a ser agressivo aos olhos. O chão na calçada da frente do prédio e o piso sob o grande vão livre estavam sujos. Mendigos circulavam no lado Oeste do espaço e policiais conversavam na face Norte. A sensação de sujeira era presente e incomodava. Era um dia cinzento e convidativo para passeios dessa natureza. Na fila, olhando aquela paisagem carente de asseio comentei com minha parceira sobre o descaso e de seu reflexo no turismo. Não custava, raciocinei eu, passarem logo pela manhã uma água nesse chão, com uma daquelas máquinas de jato forte. Tudo ficaria mais agradável. Esse é o melhor museu do Brasil. - Sim, disse ela. Mas São Paulo não é Nova York. Esquece...