terça-feira, 27 de abril de 2010

HABIB´S

O Estadão de 26 de abril trouxe matéria de uma página em seu caderno de “Negócios” sobre o Habib´s, o genuíno fast food brasileiro. O tema vale a matéria e eu escrevi sobre a rede no meu livro “Introdução ao Universo da Hospitalidade”, publicado pela Papirus em 2005. A rede é um produto do empreendedorismo do médico Alberto Saraiva que assumiu a padaria da família num traumático momento quando o pai foi assassinado, vítima de um assalto ao seu estabelecimento. A visão inicial de Saraiva para a padaria foi a de focar no público de menor renda e vender pão barato. Essa visão estratégica nunca mudou e foi o que alavancou a sua rede por todo o país com alta tecnologia na produção de alimentos e rigor na gestão dos franqueados. A matéria mostra um empreendedor centralizador, bem sucedido e que hoje arruma a governança de seus negócios rumo à Bolsa. Os números do Habib´s são impresionantes como, por exemplo, 18 mil empregados e 600 milhões de esfihas por ano. Além disso, ao tentar resolver os próprios problemas acabou por entrar nos negócios de toda a cadeia do fast food e hoje mantém uma indústria de pães e sorvetes (Arabian Bread); uma empresa de Call Center (Voxline) com 2,4 mil empregados prestando serviços para grandes empresas; um laticínio (Promilat) que processa 130 mil litros de leite por dia; uma agência de publicidade (PPM) que faz as peças e campanhas do grupo; uma empresa de arquitetura (Vector 7) que projeta e decora lojas; uma imobiliária (Planej) que trata dos negócios imobiliários do grupo, e uma agência de viajens (Bib´s Tur) que atende o público externo. Pode-se não gostar do jeitão das lojas e dos seus produtos (o pastel português é imbatível e foi uma criação “imposta” pelo Saraiva contra todos os seus colaboradores e que deu certo) mas há de se reconhecer que Alberto Saraiva é um empreendedor que, como Amaro Rolim (in memorian) criou uma empresa que, como a TAM, “tem orgulho de ser brasileira”.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Praça de Alimentação

Nos anos 1980 o Shopping Eldorado, na zona Sul de São Paulo, foi o pioneiro ao estabelecer em definitivo, no país, o conceito de praça de alimentação. Era um modelo arquitetônico absolutamente estadunidense no qual até as medidas dos móveis e banheiros vieram no padrão do Tio Sam e mereceram reparos posteriores. O sonho da família Veríssimo não era pequeno. Aquela pirâmide de concreto e vidro deveria receber ainda um hotel que completaria a grande estrutura de compras, alimentação, lazer e entretenimento. Era o que eles pretendiam com uma grande casa de show, diferentes restaurantes, um moderno Saloon, cinemas e o Parque da Mônica. Infelizmente o projeto tomou outros rumos e o mercado de Shoppings também cresceu de forma espantosa. Quase 30 anos depois, quando o mundo todo tem o conceito de praças de alimentação em estações ferroviárias, rodoviárias e aeroportuárias, além de museus, prédios antigos e tombados, universidades e instalações militares (a Burger King montou lanchonetes para a o US Army nos front atuais) alguns especialistas começam a advogar a volta de ambientes fechados para essas praças. Explico. Eles alegam, corretamente, que há um tipo de cliente que precisa de alguma privacidade no seu almoço, ainda que esse tenha que ser rápido. De fato, numa praça de alimentação, por mais chique que possa ser o ambiente, não se pode falar em privacidade e muito menos em silêncio. Os grandes ambientes fazer reverberar o som e a correria entre 11am e 02pm torna impossível a concentração para uma conversa de negócios. Li uma vez um artigo de um francês que comparava as praças de alimentação aos banheiros públicos masculinos, com as pessoas esperando com ansiedade que o outro desocupe o lugar. A tendência pode voltar nas regiões geograficamente mais abastadas freqüentadas por executivos que garantam essa demanda. O fato é que o conceito de praças tem um princípio fundamental que é a maximização (e compartilhamento) do espaço que permite, em tese, o benefício de um menor custo por Mt2 por restaurante que se traduz no menor preço para o cliente. Há uma tecnologia de produção, pré-preparo, manipulação e entrega dos alimentos nesse sistema. A qualidade dos pratos pode ser possível sem o conforto do espaço privado que é compensado pelo preço. Simples assim, mas nem tanto. As praças são desconfortáveis e os alimentos são caros. Na verdade, o que as cidades brasileiras precisam mesmo é resgatar o espaço público das ruas. Quando elas forem mais seguras, menos poluídas e com paisagismo adequado, as praças poderão ter outro significado.