terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Marketing ao vivo

Alguns dizem que a vontade era do velho Roberto Marinho, outros que a idéia da Globo, ainda nos tempos do Boni, era mesmo promover o nosso Frank Sinatra tupiniquim. Mas os números da audiência mostram que tudo isso é bobagem e não passa de lenda institucional. Com o nome de Roberto Carlos, o show de final de ano da Globo sempre abocanhou o maior share e, por conseguinte, vendeu as cotas mais caras da temporada. Assim tem sido nas últimas três décadas. O que aconteceu em 2010 foi um encontro de oportunidades. O prefeito do Rio de Janeiro precisando de mostrar alguma felicidade na sua cidade e a Globo, sempre pronta a interagir, prestar serviços e faturar algum. Nessa perspectiva, ao invés de gravar o programa no mês de outubro ou novembro com a presença de convidados, como sempre fez, a Globo e o artista toparam uma apresentação ao vivo em plena praia de Copacabana, como já haviam feito, por exemplo, os Stones. Em plena noite do dia 25 de dezembro, quando não se tem o que fazer em casa, alguma ressaca estomacal e certa deprê pós natalina, o show cairia mais do que bem, refrescando os lares da nova Classe Média brasileira. Uma conjugação de oportunidades.
Mas quem aproveitou mesmo da situação foi o artista. O “Rei” Roberto Carlos levou alguns artistas de outros estilos para fazer um quebra-gelo com ele nas areias cariocas. Trata-se de um procedimento comum. Recentemente Ivete Sangalo fez parcerias incríveis em seu espetáculo em NYC. Mas o fato é que o “Rei” levou também uma nova cantora do ramo “sertanejo”, ainda pouco conhecida: Paula Fernandes. A moça entrou no palco para um pout-pourri de velhas canções do “Rei” num visual deslumbrante: cabelão armado, olhos negros, decote generoso e um vestido azul bem acima dos joelhos. Voz boa, ela agradou ao público e estendeu a mão para o dono do palco por duas vezes. Estava lançada.
Com sorte, ela terá um repertório bem conduzido e terá mais oportunidades no show business, Brasil afora. É a regra. Afinal, foram milhões de brasileiros que a viram ali, em planos fechados em seu rosto, nas suas pernas e nas mãos que entrelaçaram a mão do velho ídolo de gerações, assim, ao vivo e a cores, na noite de 25 de dezembro. Um presentão de Natal que foi custeado por pelo menos três grandes cotistas que ajudaram a Rede Globo a enviar aquelas imagens para todo o país com possibilidade de apresentações do Especial em países europeus, nos EUA e também na África. Numa só colherada, a Paula Fernandes pode estar, ao lado de seu avalista, muito além mar. O custo para ela? O amor, dizem as colunas e blogs de fofocas. Ela, nascida em 1983, é a nova namorada do “Rei”. Nada contra ele apresentar ao público a sua namorada ou dar a ela essa chance. O que se observa é o quanto é possível num gesto de carinho “tão pequeno” quanto esse.
Do ponto de vista do marketing isso é de fato o que o “Rei” chama de “tantas emoções”. Quatro minutos, ao vivo e a cores não tem preço. E nesse caso, se teve, ficou por conta dos cotistas.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Turismo em 3 tópicos
1. Ao longo de 2010, R$ 2,7 bilhões de recursos de emendas de parlamentares ao Orçamento da União foram repassados a entidades privadas sem fins lucrativos de várias áreas, em especial as de cultura e turismo. Ao todo, 3.078 entidades foram beneficiadas com recursos do Orçamento. É mole?
Com isso ficamos sabendo que as políticas para o turismo serviram uma vez mais para acertar a vida de corruptos e juntar dinheiro para as campanhas eleitorais. Investimentos sérios mesmo, só na boa vontade de alguns técnicos. Não é de hoje que a coisa é assim. Os governos não levam a sério o turismo. Caio Luiz de Carvalho, entre Itamar Franco e FHC, investiu um bocado no Nordeste. É justo, é merecido. Lá é o nosso Caribe. Mas há muito por se investir. Os gestores de plantão sempre pensam nas estradas costeiras, em ajardinar (com cimento) as áreas de orlas nas capitais e brigar por aeroportos. Mas se esquecem de que turismo é sobretudo desenvolvimento sustentável, integrado, onde a saúde, a educação e a segurança têm que fazer parte da base de qualquer programa de desenvolvimento turístico. Não precisa ter lido nos anos 80 os livros do Miguel Acerenza. Qualquer economista sabe disso. Mas não. Nada como usar o turismo para fazer caixa de campanha. Viva nóis, vamo lá, como nunca antes nesse país...
2. Os jornais dessa semana trouxeram notícias sobre o declínio das viagens de ônibus de São Paulo e Rio de Janeiro em direção ao Nordeste. Uma empresa de ônibus declarou que há dez anos passados eles tinham, nessa época do ano, cerca de dez saídas diárias para a cidade de Recife. Hoje têm apenas uma. Perderam para as companhias aéreas.
Isso é muito bom. O Brasil já foi um país onde os ricos achavam que os pobres não poderiam viajar de avião porque esse era um transporte de ricos. Os ricos tinham até trajes para as suas viagens de avião. É dose, não? Pois é. Hoje os pobres viajam de avião pagando em até 10 vezes antecipadamente, um valor menor do que o do ônibus. E os ricos? Ficam de saco cheio porque as estações de passageiros dos aeroportos ficaram cheias de gente mais simples e porque as cias aéreas passaram a tratar mal de forma generalizada. Socializaram o mau atendimento. A situação era óbvia. Não há porque se manter transporte por rodovias para essas distâncias de mais de mil e duzentos quilômetros, sobretudo em estradas com péssimas condições de tráfego com são essas rodovias federais que levam ao Nordeste e ao Sul. O número de mortes nas estradas do Estado de Minas Gerais deve superar o número de baixas de soldados estadunidenses no Vietnã: 47 mil. Vem aí a Copa de 2014!
3. A cidade de São Paulo é vítima de muita estupidez em sua gestão urbana. Nem falo de planejamento urbano. A sofreguidão da especulação imobiliária não tem fim e por décadas vem criando novos centros comerciais e residenciais sem a menor preocupação com a correta ocupação do solo e a preservação das áreas mais antigas da urbis. Enquanto Paris, Londres, NYC e até Roma, mantêm suas antigas e tradicionais avenidas vivas, atraentes e valorizadas, São Paulo vai construindo cenários onde se refugiam os emergentes, comerciais ou residenciais. Avenidas novas, novos centros empresariais e novos centros de compra surgem a cada trimestre na cidade, em detrimento das áreas tradicionais. As avenidas como a Berrini, e as construções de prédios modernosos na Vila Olímpia soam falsas, como um cenário forçado para esse mundo deslumbrado da cidade. Um dia critiquei a arquitetura cafona no Recreio dos Bandeirantes, no Rio. Engulo isso agora em São Paulo. Que a cidade deve crescer é uma questão a ser discutida. Que é incorreto abandonar os velhos centros em favor da criação desses novos cenários, todos sabemos. A questão é segurar esses especuladores imobiliários, hoje já internacionalizados, que descobriram o ponto G dos emergentes e abrem avenidas e constroem prédios nos modelitos estadunidenses que inebriam os novos donos do dinheiro. Enquanto isso a cidade segue carecendo de melhores vias e de transporte coletivo que atendam a maior demanda de turismo de negócios e eventos do país.