quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Neuromarketing Alimentar?

Lá por 2004 ou 2005, eu falava com os estudantes sobre o Neuromarketing, esse termo criado pelo professor de marketing Ale Smidts, da Rotterdam School of Management, Erasmus University, Holanda, e discutíamos sobre o desejo dos estudiosos do comportamento do consumidor de encontrar um Ponto G na mente do consumidor de forma a tornar irreversível a consumação de seu desejo de compra.
O assunto é polêmico.
Os estudantes questionavam o sistema de mensagens subliminares experimentado nos anos 1950 em cinemas dos Estados Unidos e que gerou impulsos de consumo e cujo uso acabou proibido. Pois bem, se aquilo já era uma aberração, o que dizer de um tipo de controle sobre a mente do consumidor tornando-o “indefeso” ao impulso da compra?
Sim, é uma questão complexa e que, assim como a clonagem de seres humanos, se concretizada, enfrentaria problemas éticos, legais, religiosos e políticos. Mas há quem pense em descobrir isso. Com certeza, os malucos por regimes totalitários seriam compradores dessa descoberta, que custaria muito mais do que armas nucleares no mercado negro. Ah, bobagem...
Mas eis que em 2011 está no The Wall Street Journal Americas, via Valor, a notícia: “Nestlé tenta tapear cérebro da barriga com novos alimentos.” Longa e com alguma complexidade, a matéria diz que os pesquisadores da empresa suíça estão buscando criar novos alimentos com base na comunicação entre o cérebro e o estômago. Os estudos se baseiam no sistema digestivo humano que tem um “alarme” para avisar que estamos famintos ou saciados. Segundo a matéria, “um conjunto de células nervosas trabalha junto e se comunica de modo bem parecido com o dos neurônios do cérebro. Em essência, é como se houvesse na barriga um segundo cérebro.” Esse processo é conhecido como sistema nervoso entérico e “é formado por 500 milhões de células nervosas, o mesmo número contido no cérebro de um gato.” O epicentro da pesquisa, de acordo com a matéria, é conseguir criar alimentos que possam dar a esse sistema, insumos para que ele leia que o consumidor está saciado com o que come naquele momento, ou seja, alimentos que literalmente venham a “enganar o estômago”. Heribert Watzke, cientista sênior de nutrição da Nestlé especula que, por exemplo, fazer batatas fritas com um tipo de óleo que é digerido mais lentamente do que o normal pode dar uma sensação de saciedade mais duradoura: “isso significa que as pessoas vão se sentir cheias mais rapidamente; isso avisaria o cérebro de cima para parar de comer”
A iniciativa, diz ainda a matéria, não é pioneira. Outras empresas já tentaram experiências como essa e algumas a deixaram de lado porque o alimento não era saboroso o bastante ou por problemas digestivos. O fato é que todas alegam estar buscando uma forma de combater a obesidade que avança impiedosamente no mundo, Brasil incluído, em sua base da pirâmide social.
Agora convenhamos: num mundo em que nos acostumamos a ver empresas criarem produtos e drogas que viciam mais rapidamente (nos cigarros, por exemplo), é pelo menos curioso, e a sociedade pode ver com certo ceticismo, que as grandes empresas produtoras de junk food dediquem tanto tempo de seus laboratórios para que o seu consumidor coma menos de seus produtos. Pode ser. Eles terão com certeza um aviso na embalagem. “Este produto vai lhe causar a sensação de saciedade antes que ela realmente aconteça. Consuma despreocupadamente”

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Virgin King arriving

Fiquei fã do Richard Branson em 1998, quando li o livro Virgin King que trata de sua biografia com foco na criação da companhia aérea de low cost low fare criada àquela época para alegria dos que fazem o trajeto NYC/London e para desespero das, então conservadoras, empresas aéreas européias. Branson comprou aviões usados e novos, contratou comissárias jovens e com vontade de subir na vida, mesmo que ganhando menos do que nas companhias tradicionais. Foi uma luta para conseguir pousar suas aeronaves no London Heathrow Airport em razão do boicote das grandes concorrentes. Ele fazia medo. Ele é um empreendedor diferente, ousado. Sua gravadora Virgin foi a primeira a acreditar em gente como o Rolling Stones, por exemplo. Nos anos 1990 suas lojas de disco foram transformadas em lojas de departamentos. Agora ele está vindo para o Brasil. É bem vindo. Tive a oportunidade de falar dele ao saudoso Comandante Rolim Amaro, numa daquelas corridas manhãs de Congonhas. Rolim foi modesto (acabava de comprar uma empresa Paraguaia) e disse que jamais seria um sujeito “com os colhões do Branson”. Era mentira. Rolim foi tão atrevido quanto Branson, dentro da perspectiva tupiniquim. O mote da vinda dele para o Brasil – está nos jornais de hoje – é preparar terreno para ter a Virgin Atlantic operando em solo brasileiro antes da Copa de 2014. E mais, quer voar também internamente em parceria com alguma das nacionais. Bronson sabe o que faz. Tem boa assessoria e visão de mercado. Sua empresa aérea (em parceria) já voa na África, por exemplo, garantindo posicionamento num lugar no qual poucos acreditam. O Brasil conhece pouco Sir Richard Branson. Nós leitores e tietes ficamos felizes com sua chegada. Já as empresas aéreas e o varejo, esses devem abrir os olhos...

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

As vestes obrigatórias

O poderoso banco suíço UBS tem sido o centro dos comentários de muitos executivos mundo afora, não pelo seu comportamento na grande crise de 2008 mas sim, pelo lançamento de seu novo “código de vestimenta” no final de 2010. Tem quarenta e três páginas o “Código de Vestimenta do Banco UBS” (Appearance Handbook Styleite). No texto as recomendações são muitas: usar sempre lingerie da cor da pele; as roupas de baixo não devem ser visíveis de forma alguma; não usar unhas muito coloridas, em especial as postiças; cortes de cabelo e penteados e tipos de sapatos também são recomendados ou seja, da cabeça aos pés. As mulheres não devem usar jóias muito brilhantes ou calças que sejam agarradas no derrièr e os homens devem usar calças que combinem com o seu paletó de dois ou mais botões, próprios para o ambiente de trabalho. Consultores de aparência nas principais capitais do mundo concordam, em parte, com as regras de vestimenta da organização suíça. Uma profissional de imagem corporativa diz que os erros mais comuns são “as pessoas despenteadas e usando roupas mal ajustadas. Fica uma aparência desmazelada, como se você não estivesse em você mesmo” Outro consultor diz que “se os bancos gastam dinheiro com tapetes felpudos e vasos de flores, não vão querer pessoas circulando de jeans”. Comentários publicados no Vancouver Sun por exemplo, dão conta de que a maioria dos profissionais da moda e do mundo executivo concorda com o fato de que devem existir regras para a indumentária dos bancários e assemelhados, muito embora o UBS possa ter exagerado nas cores, sobretudo quando trata das roupas de baixo da cor da pele.
A experiência de muitas empresas bem mais próximas de nossa realidade mostra que nem sempre os profissionais entendem recados com alguma sutileza. Numa empresa onde trabalhei, por exemplo, convencionou-se que às sextas feiras poderíamos usar um traje mais casual e isso incluía o uso do jeans. Todavia não falávamos em camiseta de gola careca ou tênis. E tinha gente que lá aparecia com aquela camiseta e um tênis já combalido. Eu, pessoalmente, sempre trouxe um blazer no carro. Nunca se sabe o que pode ocorrer. Também já passei pelo desconforto de ter que alertar uma colega de trabalho, minha subordinada, sobre a inconveniência de seus trajes para visitar novos clientes. Desconfortável sim, mas necessário.
Na hotelaria esse tipo de rigor não causa espanto. Os brincos devem ser sempre discretos, os cabelos, sempre que possível, presos ou semi-presos e as roupas discretas: saias não mais do que quatro dedos acima dos joelhos e os homens, preferencialmente, sem modelos de barba muito exóticos. As unhas das recepcionistas, por exemplo, devem ser preferencialmente esmaltadas em cores discretas, evitando-se aquele vermelho cádmio.
Com certeza, os atalaias da esquerda obscurantista dirão que o capital quer moldar as pessoas in extremis tirando-lhes até a individualidade no modo de vestir-se. Pois estão errados. A vestimenta é parte da linguagem do corpo, fala daquele personagem que apenas vemos de longe e que, compõe um cenário, no caso, o banco. Em termos de linguagem, Deyan Sudjic, diretor do Design Museum de Londres e autor do livro A Linguagem das Coisas (Intrínseca, 2010) que acabo de ler com entusiasmo, diz
“Não é coincidência que o preto seja a cor das armas: o símbolo do design sem o fator venda. O preto é uma não cor, usada para instrumentos científicos que contam mais com a precisão do que com a moda para atrair clientes. Não ter cor significa que se está dando a aspirantes a consumidor a honra de levá-los a sério a ponto de não tentar iludi-los com falsos brilhos.”
É de linguagem que a empresa fala quando pede (exige) o uso de roupas discretas pelos seus empregados. No capítulo sobre moda, no mesmo livro, Sudjic comenta que quando Giorgio Armani foi contratado a redesenhar os uniformes dos Carabineri da Itália (não é redundante), soou, no primeiro momento, como um desvio frívolo, mas obviamente sempre se esperou que os uniformes militares fizessem seus usuários se sentirem melhor em relação a si mesmos.
Enfim, quem já não viu, no final de fevereiro, aquela funcionária que volta de férias com uma blusa branca de generoso decote contrastando com sua pele recentemente bronzeada? Quem já não viu aquela moiçola rechuncha que faz questão de usar uma saia curta e apertada que deixa a mostra seus pneus e metade de suas coxas digamos, reforçadas demais? Não, nem sempre as pessoas têm bom senso. E essa é uma boa razão para a elaboração de manuais para orientar empregados a se vestirem.
Freud, em A interpretação dos Sonhos, diz Sudjic, sugere que, para os militares que andam uniformizados, sonhar que se apresentam em público à paisana é um sonho de ansiedade do mesmo tipo que é para as demais pessoas, o da nudez pública. Diz o diretor do Design Museum de Londres:
“Mas o limite entre o que chamamos moda e o que chamamos uniforme – aparentemente entre o frívolo e o sério, o frágil e o durável, o inventado e o autêntico – não é bem claro.”
Nas ruas de Manhattan, de Docklands ou nas imediações das avenidas Berrini ou Paulista é possível saber quem trabalha no mercado financeiro, bancos de investimento e outros serviços que exigem sobriedade.
Isso ocorre porque, ao mesmo tempo em que tenta tornar seus usuários invisíveis, essa “camuflagem padronizada” das empresas gera também um sinal de extrema visibilidade, pretendendo identificá-los, como os uniformes, para o seu próprio lado do combate.