terça-feira, 11 de setembro de 2012

Pós-luxo e a Copa 2014

O território paulista ganhou no mês de agosto de 2012 o mais exclusivo resort do país. Trata-se do Botanique Hotel Gourmand & Spa, comandado pelo casal Fernanda e Ricardo Semler e localizado num triângulo entre Campos do Jordão, São Bento do Sapucaí e Santo Antonio do Pinhal. O hotel abre com um atraso de cinco anos em relação ao seu projeto inicial depois de mudança de sócios investidores, arquitetos, decoradores e redefinição do partido. Ao cabo da empreitada, que começou com 16 sócios, o projeto custou R$43,5 milhões e vai hospedar até 34 pessoas, crianças excluídas. Numa leitura linear, temos um investimento de R$1.264 milhões por hóspede. Não deve ser fácil encontrar, nas montanhas do estado do Colorado, por exemplo, investimento per hóspede dessa envergadura. Para pernoitar no Botanique os interessados deverão desembolsar entre $2,5 mil e R$6 mil com direito a três refeições, serviços básicos de lavanderia e equipamentos do Spa. A senhora Semler, em entrevista ao jornal Valor Econômico, disse que espera um público interessado no “pós-luxo” cujo foco não é exatamente a qualidade da pedra mármore utilizada na construção mas sim, “em banhos de água mineral e serviços eficientes”. Eis o “pós-luxo”. Mas o investimento vai além do meio de hospedagem. Numa área de cerca de 124 alqueires ou 3 milhões de m2, os empreendedores vão construir casas de veraneio de alto luxo. O projeto inicial de investimento para os próximos oito anos é de R$35 milhões na construção das primeiras casas. O mercado hoteleiro no Brasil é recente e coincide com o Plano Real, em 1994. Foi só depois desse período que o mercado começou, de fato, o seu desenvolvimento no país. Antes disso as tentativas eram de empresas familiares e nos anos 1980, fugindo da inflação e do congelamento dos aluguéis, houve um boom na construção dos flat, ou apart hotel. Nos anos 1990 muitos hotéis foram construídos nos centros maiores do país e muitos deles naufragaram por falta de estudos de viabilidade econômica. Mas alguns segmentos fortes desses empreendimentos imobiliários lograram bons resultados sob bandeiras de peso internacional e o mercado teve uma boa estabilização, sobretudo nos modelos de uma hotelaria econômica. No Brasil esse mercado de real estate Investiment é peculiar. Os interessados não investem em papéis e sim em unidades habitacionais. Ficam sócios “daquele empreendimento” e não de uma marca necessariamente. É uma cultura luso/ibérica do título de propriedade extremamente tangível, nada parecida com a origem dos cristãos novos. De acordo com a HVS Brasil, o mercado hoteleiro do Brasil corresponde a aproximadamente 5% desse mercado nos Estados Unidos e as tendências para os novos investimentos estão, em 2012, focadas na aquisição de ativos hoteleiros com possibilidades de valorização em médio prazo e poucas possibilidades de novas construções. Para essa consultoria de alto nível, cerca de 70% dos projetos que passam por sua análise não se mostram viáveis num prazo adequado ao retorno do investimento. Uma das opções apontadas pela HVS é o investimento em países vizinhos cujo valor pode ser menor e com retorno mais rápido. Muito se fala sobre as “grandes possibilidades” geradas pela Copa 2014. No entanto, profissionais com a expertise de uma VHS têm dito que construir mais hotéis no país pensando no evento da Copa é uma temeridade e o “Day After” poderá dar muita dor de cabeça para os seus investidores. Eles devem estar certos. A África do Sul recebeu apenas 45% da demanda estimada para a Copa. E as Olimpíadas de Londres não deram aos hotéis daquela cidade a demanda esperada. Em 27 de julho de 2012 a rede hoteleira londrina baixava seus preços de 300 a 400 libras para 109 a 150 libras. A ocupação foi mais baixa do que no período do casamento entre o príncipe William e Kate Middleton. Não acredito na demanda para a Copa de 2014. Terá a Europa se recuperado minimamente? Difícil. E lós hermanos? Com exceção da Argentina e Venezuela eles poderão vir. Mas não têm o poder de compra que podem ter os europeus. Já os EUA, mesmo que melhorem e mesmo sendo mais próximos, seu interesse pelo futebol, em pesquisa, é quase traço. Enquanto isso escolas e hospitais ficam sem dinheiro para que estádios sejam edificados...