terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Marketing ao vivo

Alguns dizem que a vontade era do velho Roberto Marinho, outros que a idéia da Globo, ainda nos tempos do Boni, era mesmo promover o nosso Frank Sinatra tupiniquim. Mas os números da audiência mostram que tudo isso é bobagem e não passa de lenda institucional. Com o nome de Roberto Carlos, o show de final de ano da Globo sempre abocanhou o maior share e, por conseguinte, vendeu as cotas mais caras da temporada. Assim tem sido nas últimas três décadas. O que aconteceu em 2010 foi um encontro de oportunidades. O prefeito do Rio de Janeiro precisando de mostrar alguma felicidade na sua cidade e a Globo, sempre pronta a interagir, prestar serviços e faturar algum. Nessa perspectiva, ao invés de gravar o programa no mês de outubro ou novembro com a presença de convidados, como sempre fez, a Globo e o artista toparam uma apresentação ao vivo em plena praia de Copacabana, como já haviam feito, por exemplo, os Stones. Em plena noite do dia 25 de dezembro, quando não se tem o que fazer em casa, alguma ressaca estomacal e certa deprê pós natalina, o show cairia mais do que bem, refrescando os lares da nova Classe Média brasileira. Uma conjugação de oportunidades.
Mas quem aproveitou mesmo da situação foi o artista. O “Rei” Roberto Carlos levou alguns artistas de outros estilos para fazer um quebra-gelo com ele nas areias cariocas. Trata-se de um procedimento comum. Recentemente Ivete Sangalo fez parcerias incríveis em seu espetáculo em NYC. Mas o fato é que o “Rei” levou também uma nova cantora do ramo “sertanejo”, ainda pouco conhecida: Paula Fernandes. A moça entrou no palco para um pout-pourri de velhas canções do “Rei” num visual deslumbrante: cabelão armado, olhos negros, decote generoso e um vestido azul bem acima dos joelhos. Voz boa, ela agradou ao público e estendeu a mão para o dono do palco por duas vezes. Estava lançada.
Com sorte, ela terá um repertório bem conduzido e terá mais oportunidades no show business, Brasil afora. É a regra. Afinal, foram milhões de brasileiros que a viram ali, em planos fechados em seu rosto, nas suas pernas e nas mãos que entrelaçaram a mão do velho ídolo de gerações, assim, ao vivo e a cores, na noite de 25 de dezembro. Um presentão de Natal que foi custeado por pelo menos três grandes cotistas que ajudaram a Rede Globo a enviar aquelas imagens para todo o país com possibilidade de apresentações do Especial em países europeus, nos EUA e também na África. Numa só colherada, a Paula Fernandes pode estar, ao lado de seu avalista, muito além mar. O custo para ela? O amor, dizem as colunas e blogs de fofocas. Ela, nascida em 1983, é a nova namorada do “Rei”. Nada contra ele apresentar ao público a sua namorada ou dar a ela essa chance. O que se observa é o quanto é possível num gesto de carinho “tão pequeno” quanto esse.
Do ponto de vista do marketing isso é de fato o que o “Rei” chama de “tantas emoções”. Quatro minutos, ao vivo e a cores não tem preço. E nesse caso, se teve, ficou por conta dos cotistas.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Turismo em 3 tópicos
1. Ao longo de 2010, R$ 2,7 bilhões de recursos de emendas de parlamentares ao Orçamento da União foram repassados a entidades privadas sem fins lucrativos de várias áreas, em especial as de cultura e turismo. Ao todo, 3.078 entidades foram beneficiadas com recursos do Orçamento. É mole?
Com isso ficamos sabendo que as políticas para o turismo serviram uma vez mais para acertar a vida de corruptos e juntar dinheiro para as campanhas eleitorais. Investimentos sérios mesmo, só na boa vontade de alguns técnicos. Não é de hoje que a coisa é assim. Os governos não levam a sério o turismo. Caio Luiz de Carvalho, entre Itamar Franco e FHC, investiu um bocado no Nordeste. É justo, é merecido. Lá é o nosso Caribe. Mas há muito por se investir. Os gestores de plantão sempre pensam nas estradas costeiras, em ajardinar (com cimento) as áreas de orlas nas capitais e brigar por aeroportos. Mas se esquecem de que turismo é sobretudo desenvolvimento sustentável, integrado, onde a saúde, a educação e a segurança têm que fazer parte da base de qualquer programa de desenvolvimento turístico. Não precisa ter lido nos anos 80 os livros do Miguel Acerenza. Qualquer economista sabe disso. Mas não. Nada como usar o turismo para fazer caixa de campanha. Viva nóis, vamo lá, como nunca antes nesse país...
2. Os jornais dessa semana trouxeram notícias sobre o declínio das viagens de ônibus de São Paulo e Rio de Janeiro em direção ao Nordeste. Uma empresa de ônibus declarou que há dez anos passados eles tinham, nessa época do ano, cerca de dez saídas diárias para a cidade de Recife. Hoje têm apenas uma. Perderam para as companhias aéreas.
Isso é muito bom. O Brasil já foi um país onde os ricos achavam que os pobres não poderiam viajar de avião porque esse era um transporte de ricos. Os ricos tinham até trajes para as suas viagens de avião. É dose, não? Pois é. Hoje os pobres viajam de avião pagando em até 10 vezes antecipadamente, um valor menor do que o do ônibus. E os ricos? Ficam de saco cheio porque as estações de passageiros dos aeroportos ficaram cheias de gente mais simples e porque as cias aéreas passaram a tratar mal de forma generalizada. Socializaram o mau atendimento. A situação era óbvia. Não há porque se manter transporte por rodovias para essas distâncias de mais de mil e duzentos quilômetros, sobretudo em estradas com péssimas condições de tráfego com são essas rodovias federais que levam ao Nordeste e ao Sul. O número de mortes nas estradas do Estado de Minas Gerais deve superar o número de baixas de soldados estadunidenses no Vietnã: 47 mil. Vem aí a Copa de 2014!
3. A cidade de São Paulo é vítima de muita estupidez em sua gestão urbana. Nem falo de planejamento urbano. A sofreguidão da especulação imobiliária não tem fim e por décadas vem criando novos centros comerciais e residenciais sem a menor preocupação com a correta ocupação do solo e a preservação das áreas mais antigas da urbis. Enquanto Paris, Londres, NYC e até Roma, mantêm suas antigas e tradicionais avenidas vivas, atraentes e valorizadas, São Paulo vai construindo cenários onde se refugiam os emergentes, comerciais ou residenciais. Avenidas novas, novos centros empresariais e novos centros de compra surgem a cada trimestre na cidade, em detrimento das áreas tradicionais. As avenidas como a Berrini, e as construções de prédios modernosos na Vila Olímpia soam falsas, como um cenário forçado para esse mundo deslumbrado da cidade. Um dia critiquei a arquitetura cafona no Recreio dos Bandeirantes, no Rio. Engulo isso agora em São Paulo. Que a cidade deve crescer é uma questão a ser discutida. Que é incorreto abandonar os velhos centros em favor da criação desses novos cenários, todos sabemos. A questão é segurar esses especuladores imobiliários, hoje já internacionalizados, que descobriram o ponto G dos emergentes e abrem avenidas e constroem prédios nos modelitos estadunidenses que inebriam os novos donos do dinheiro. Enquanto isso a cidade segue carecendo de melhores vias e de transporte coletivo que atendam a maior demanda de turismo de negócios e eventos do país.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Dinheiro público em lugares duvidosos

A definição do Brasil para sediar a Copa de 2014 é tema para muita discussão. Esse evento será de fato bom para o país? Os investimentos necessários para receber esse campeonato são prioritários numa ordem de importância social e econômica? Além da boa demanda imediata, no período dos jogos, haverá um longo recall nos países geradores de demanda turística? O Brasil fez um estudo sério sobre vantagens e desvantagens desse evento? Bem, seja como for, o negócio é irreversível. Mas a questão é: quanto dinheiro público vai rolar por esse ralo e qual o retorno disso?
O BNDES já trabalha com linha de crédito para a construção e reforma de hotéis nas cidades que deverão sediar jogos importantes. Um programa especial, o PROCOPA Turismo, foi lançado pelo MIT em janeiro de 2009 e dispõe de 1 bilhão de reais. De acordo com informações do próprio banco publicadas pelos jornais na semana de 18 de novembro 2010, esse valor já está quase todo comprometido e já se cogita outro bi para essa rubrica. Gestores de marcas hoteleiras internacionais e empreendedores independentes têm interesse em fazer novos investimentos e melhorias em hotéis já existentes. A questão é o depois. Haverá demanda para acelerar o retorno desses investimentos?
Outra questão preocupante é o financiamento, pelo BNDES, das reformas e construções de estádios. Quais as garantias reais para esses financiamentos? Os novos modelos de estádios, como grandes centros de eventos multiuso darão o retorno para o pagamento dos financiamentos? É possível que sim, se falarmos de São Paulo, Rio, Curitiba ou porto Alegre. Muitas outras capitais já dão duro para criar demanda para os seus espaços de eventos. E muitos Estados, sobretudo no Nordeste, têm excelentes trabalhos de seus Conventions Bureau. Criar demanda para esses novos espaços não será uma tarefa fácil.
Pode parecer pessimismo. Não é. Aqueles que entrevistaram os organizadores do evento na África do Sul não saíram muito animados com as perspectivas. Vá lá, o Brasil está num estágio bem melhor do que aquele país. Nossas necessidades, contudo, não são muito diferentes. E a distância que nos separa dos grandes centros emissores é a mesma. Com a desvantagem que somos muito maiores e as distâncias a percorrer aqui dentro demandam muito mais tempo e dinheiro. Eis porque, para a Copa 2014, a composição de pacotes de curta duração e boa logística deve ser a prioridade dos empreendedores do turismo doméstico. E boa sorte prá todos nós!

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Pitadas de hospitalidade e turismo


1- Os velhos e charmosos taxis da cidade de Londres, os Cabs, estão com os dias contados. Os cabs são fabricados sob normas específicas desde o começo dos serviços de transporte urbanos individuais no século 20. O seu fabricante é a Austin e eles são o Austin FX4. O seu final está decretado por uma invasão alemã na capital do Reino Unido. É que a Mercedes Benz está forçando a barra para ganhar aquele espaço alegando que os seus modelos são mais modernos e adequados às necessidades dos súditos de sua majestade e seus turistas. É a tal da globalização invadindo o charme e a tradição londrina. É uma intervenção perversa...
2- Curiosidade: Os portugueses tratavam desde a Idade Média (alguns ainda tratam) assim as refeições do dia: pela manhã, a primeira refeição é o Almoço, hoje conhecido como Pequeno Almoço. No final da manhã, no meio do dia, o Jantar. À noite, a refeição tinha o nome de Ceia. Os pães e as carnes frias eram o reforço do almoço logo pela manhã, dando forças para o trabalho duro do dia. À noite, novamente, os pães estavam presentes sob as comidas, embebidos em caldos ou melados com açúcar. E recebiam o nome de Açorda. Pão era também sinônimo de sopa. E a escuna vai, ô pá.
3- A decisão da TAM, da Azul e da Gol de tentar a venda de bilhetes para as classes D e E em PDV diferentes como Supermercados não se constitui novidade. Richard Branson, fundador da Virgin Air foi o primeiro a pensar nessa estratégia lá no final dos anos 1980. Quem me presenteou com o livro com a biografia dele foi meu amigo Luis Trigo e nos anos 1990 tive a chance de falar dele com o saudoso comandante Rolim Amaro que, à época, declarou-se também um fã do Branson. Aliás, Richard Branson é um personagem que merece a atenção de todos os que gostam/querem entender melhor sobre empreendedores que não crescem grudados nas tetas, ou nas pelotas, dos governos e crescem APESAR deles.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

O Brasil do Turismo, de longe e de perto

• A revista alemã Der Spiegel e o jornal inglês The Guardian publicaram matéria sobre um suposto restaurante brasileiro do Estado de Rondônia que serve carne humana e estaria abrindo filial em Berlim. Mesmo tendo sido identificada a fonte, um site hospedado no Reino Unido e escrito em português de Portugal, tamanha besteira encontra eco porque o Brasil ainda é visto como um país, digamos, exótico, pelo povão europeu e norte-americano. Vem aí a Copa 2014...
• Meu filho passou medo na manhã de ontem em plena Avenida Pacaembu, na cidade de São Paulo quando se viu dentro de uma cena absolutamente carioca: um tiroteio na avenida com direito a metralhadora dos assaltantes de um banco e à coragem de policiais que corriam atrás deles com uma simples pistola automática. Ele ficou deitado no banco do carro revendo toda a sua vida num clipe rápido. Vêm aí as Olimpíadas 2016...
• Silvester Stallone pediu desculpas mas não desmentiu sua história de que no Brasil os gringos da indústria do cinema podem explodir tudo, fazer barulho, xingar e ainda recebem agradecimentos e ganham um macaco de brinde. É claro, ele se esqueceu de dizer que se esqueceu também de pagar as produtoras e empresas de segurança locais. O filme o qual ele filmou no Rio de Janeiro algumas cenas de ação é uma produção de 4ª categoria que tenta resgatar o valor dos actions movies que ele defende como “a verdadeira indústria do cinema”. Tem gosto prá tudo e vem aí a Copa de 2014...
• Meu amigo Hélio Higuchi me perguntou se eu fui à Bienal do Livro no Anhembi em agosto passado. Como não fui, ele me perguntou se eu sabia qual era o espaço mais requisitado e com maior fila naquele evento. Editora do Paulo Coelho? Palestra da Lya Luft? Não, nada disso. As grandes filas se formavam nos sanitários femininos. O maior espaço de eventos do país não tem banheiros suficientes para atender à demanda de seus visitantes. Além disso, a qualidade daquelas instalações ainda é duvidosa e mescla o perfil dos anos 1970 com reformas gambiárricas. Vêm aí as Olimpíadas de 2016...
• Resultado de uma duplicação pobre, de traçado antigo, ainda no governo FHC, a Rodovia Fernão Dias foi cedida em concessão pelo governo Lula (que nesse caso não chama de “privatização”) em 2007 para a empresa espanhola OHL, batizada de Auto Pista Fernão Dias e vencedora do leilão para cobrar R$1,00 pelo pedágio. Em agosto de 2010 aquela concessionária ainda não instalou câmaras de vigilância ao longo da rodovia e só agora começa a operar a sua estação de pedágio no primeiro trecho paulista, no município de Mairiporã. O afunilamento de pista naquele local não vai livrar do congestionamento nem mesmo os que têm em seus carros o “Via Fácil” para passagem rápida e débito em conta de seus pedágios. Vem aí a Copa 2014...
Isso tudo só aqui, na cidade de mais recursos no país e seu entorno endinheirado...

terça-feira, 27 de julho de 2010

O (de) crescimento do Turismo

O Banco Central informou que o saldo dos gastos de turistas brasileiros no exterior versus os gastos dos estrangeiros no Brasil resultou num saldo negativo de quase 909 milhões de dólares em junho deste ano. Esses cálculos comparativos foram iniciados em 1947 e, de lá para cá, esse foi o maior déficit mensal já registrado. No semestre o saldo negativo foi de 4,11 bilhões de dólares. Não é pouco. Um montante desses dá para investir em muita infra-estrutura que ajudaria o turismo doméstico e o receptivo para os estrangeiros. Ao invés disso, o que se vê são turistas assaltados, feridos em explosões e outras forma de agressões que nem sempre chegam à imprensa. Nem a Musa da Copa, a boazona paraguaia Larissa Riquelme, foi poupada. O turismo, como a educação, é tratado na superficialidade. Na educação o lulismo criou universidades e não deu a mínima para a educação de base. Nos anos FHC investiu-se muito no Nordeste como o novo Portão de Entrada no país. Mas foi só na forma de financiamentos para a iniciativa privada. A infra-estrutura nem sempre foi lembrada. E o Nordeste é carente de estradas, esgoto, aeroportos, segurança alimentar e segurança pública. Quando se investiu nos aeroportos, já no tempo do lulismo, o fizeram mais nas estações de passageiros, o que está certo, mas se esqueceram das pistas e equipamentos de segurança. Bem, se pensarmos que só agora, de olho na Copa de 2014, a Infraero vai equipar o aeroporto Franco Montoro (Guarulhos) o maior do país, com instrumentos para pouso cego, nos daremos conta do descaso. Dá para acreditar? E por que as Olimpíadas no Rio de Janeiro? Vamos colocar os tanques nas ruas de novo? Haverá um pacto entre o Estado de Direito e o Estado de Facto dos fora da lei? Ou vão chamar o Silvester Stallone? Ele tem uma opinião formada sobre o Rio, que ele acha que é o Brasil... Nada contra as viagens dos brasileiros para o exterior. Viajar nos lapida a mente, nos dá alegria e possibilita comparações. Viajar é educar-se. Mas o Brasil pode atrair mais estrangeiros de perto, da Sudamerica, pelo menos. Visto por operadores estrangeiros como um Long Haul Destination (destino longe dos emissores) o Brasil tem muito a investir, primeiro, em suas condições de receptivo e depois investir em programas de longo prazo e maciços em promoções no exterior. Isso inclui também o cinema como ferramenta de divulgação conforme já tratamos aqui neste espaço. As campanhas para o turismo doméstico, por outro lado, são episódicas. Não se leva a sério essa atividade econômica que gera muito mais empregos por unidade de valor investido do que a indústria de chão de fábrica, por exemplo. União e Estados não dão a mínima para suas infra-estruturas. Minas Gerais, com tantos atrativos turísticos é a campeã em mortes nas estradas. As praias do Nordeste não são acessíveis por terra para os grandes emissores do Sudeste. As estradas são perigosas em todos os sentidos. E nem banheiros decentes têm. O lulismo sempre foi refratário a concessão de rodovias para a iniciativa privada. Fez muito pouco e mal feito. Por outro lado, Estados e prefeituras poderiam investir mais para divulgar seus atrativos, mas não o fazem. Ao redor da cidade de São Paulo, por exemplo, há muito que se visitar, onde comer e divertir-se. Muito mais do que a média das pessoas sabe. Esse turismo doméstico é que deve (precisa) crescer. As cidades de vocação turística têm que se repaginar, pensar criativamente e investir. É a melhor maneira de trazer para os seus cofres o saldo dos turistas que viajaram para o exterior.

domingo, 18 de julho de 2010

Modo de Vida

O Estadão de domingo, 18/07/2010 trouxe matéria sobre o consumo de marcas de vestuário no interior e cita cidades como Jundiai, Ribeirão, Araçatuba e SJ do Rio Preto.
Trata-se de uma constatação sobre um estilo de vida dos segmentos de alta renda dessas cidades que vêm, com o tempo, se moldando ao processo "globalizante" da informação e do consumo.
Esses segmentos com alto poder de compra sempre foram bons consumidores e viajantes, sobretudo nos tempos em que esse tipo de consumo era coisa para privilegiados uma vez que não havia crediário para bilhetes aéreos e passeios pelo exterior. A moda feminina nessas cidades, que tinham na pecuária e agricultura o cerne de suas economias, sempre foi atualizada. Isso acontecia já nos anos 1960/70 do século passado através das compras que esses segmentos faziam pessoalmente nas boutiques da então famosa Rua Augusta ou nas congêneres do Rio de Janeiro. Senhoras das sociedades locais que tinham prestígio montavam suas boutiques no interior trazendo essas novidades para aqueles que frequentavam os ambientes tidos como chiques nas suas cidades e que não dispunham de tempo e recursos para comprar em Copacabana no Leblon ou Augusta, suas próprias roupas. E ainda vendiam a prazo, o que facilitava a inclusão da pequena classe média no mundo dos pecuaristas endinheirados. Era o tempo de festas de debutantes.
Os anos 1990 ganharam a abertura dos portos e as senhoras das boutiques, em São Paulo ou no interior, puderam utilizar seus cartões de crédito no exterior, dividir seus bilhetes em dez pagamentos e aprenderam a ser sacoleiras de luxo em NYC ou nos Mall da Flórida. Viajam com uma pequena bagagem de mão e na volta vendem até as malas que abrigam suas compras. Globalizamos a moda via sacolas.
De há muito as cidades interioranas têm a sede de imitar as grandes metrópoles. Começaram erguendo edifícios verticais em cidades onde o valor dos terrenos era baixíssimo e permitia belas construções horizontais. Depois vieram os calçadões, a sede pelas lojas de departamentos, hoje traduzidas em Casas Bahia e outras do gênero. No ano 2000 os condomínios fechados, ruas especializadas em comércio e Shopping Centers fecharam o ciclo da "cara de cidade grande".
Diferente das cidades próximas a São Paulo e Campinas (Valinhos, Vinhedo, Sumaré, Atibaia, Bragança Paulista, Itatiba e Indaiatuba) que tiveram sua expansão urbana através de condomínios fechados e cuja característica dos moradores é a de stay at home people entendido como aquele morador que não sai de casa porque tem de tudo lá (home theater, quadra, piscina, churrasqueira etc.), os moradores de cidades como São José do Rio Preto, Presidente Prudente e Araçatuba, são frequentadores de seus bares e festas porque pertencem a uma sociedade mais ativa e de raízes com mais de meio século nas suas comunidades. Naquelas cidades todos sabem de tudo sobre todos. E se frequentam. Já os stay at home que estão perto dos grandes centros são vizinhos recentes, pouco se falam e, pior, na sua maioria, fazem um trajeto diário cansativo entre São Paulo e/ou Campinas e região e suas casas. A moda e o lazer estão mais fáceis e acessíveis para esses stay at home, cerca de 50 minutos do Iguatemi de São Paulo ou 20 minutos do mesmo Shopping em Campinas.
O dinheiro nessas cidades mais distantes da capital e ligadas à economia do setor primário fica na ponta da pírâmide, mas não é pouco. E a comodidade de obter os produtos de sonho de consumo das mãos de uma conhecida sem passar pelo trânsito, pelos demais riscos e ser atendida com tratamento pelo primeiro nome ou apelido, faz com que essas mulheres do interior promovam um comércio que para muitos pode parecer arriscado. Mas pode não ser, como mostra a matéria no arquivo anexo. Afinal, Kotler sempre disse que, mais do que satisfazer as necessidades do cliente, é preciso encantá-lo. Essa clientela, com certeza, está encantada.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Turismo, empresas e pobreza

Já tratei do tema em palestras, artigos e no meu blog http://jruyveloso.zip.net. Todavia todos os dias me deparo com novos dados sobre de como as grandes empresas vêm agindo nos países pobres buscando novos nichos de mercado que compensem a perda do poder de compra e a fúria da concorrência nos países mais ricos. É dessa forma que alguns investimentos têm sido feitos em países como Indonésia e Bangladesh que acabam se convertendo em empreendimentos de enclave, sem contato com a realidade local, gerando poucos empregos e surfando no turismo sexual com meninos e meninas na faixa dos 14 anos. Um amigo que viajou por essas bandas em 2008 me relatou a exposição até “refinada” de “lady boys”, travestis transformados em meninas já a partir dos 7 anos de idade. E cobram “caro” pelos seus favores sexuais, cerca de US$10... Como resultado as famílias querem transformar seus meninos em “meninas” para vendê-los aos visitantes europeus. Mas essa é uma face do turismo na pobreza destinado a baixa renda do mundo mais desenvolvido. A principal clientela desses resorts é de operários europeus e estadunidenses, os “blue collar”. Agora, além desse tipo de investimento, a indústria de bens de consumo entra pesado no mercado dos pobres. Tentam vender, por exemplo, xampu, cremes faciais e até tênis por preços nunca vistos. A Adidas quer oferecer para os bengaleses que andam descalços um tênis simples por 1 Euro ((R$2,20). A Danone, pressionada na Europa e América do Norte, onde faturou em 2006 US$3,6 bilhões, corre para desenvolver produtos de baixo preço e ganhar no volume de vendas nessas regiões pobres. Com dificuldades de custos no Senegal, onde o leite custa caro e as vacas produzem pouco (3 litros/dia versus 50 litros/dia na França), o desafio é vender iogurte para uma população que gasta em média R$2,00 por dia em comida. O recurso tem sido importar leite em pó barato. O resultado? Quem sabe... Nos anos 1970, quando os primeiros Danone chegaram ao mercado brasileiro a coisa era diferente: densidade e sabor de qualidade com pedaços de frutas como a pêra ou a ameixa. Foram bons e curtos tempos. Hoje o padrão de iogurtes que povoam as gôndolas frias são quase padronizados. E se um laticínio desses regionais tenta colocar no mercado algo melhor é abatido nos PDV pela força econômica dos grandes concorrentes. A questão é que, além (ou pior) do que o turismo sexual ou de exploração de mão-de-obra e etecétera e tal, a indústria avança sobre a pobreza com sofreguidão. Tudo mais ou menos como o clima de “O jardineiro fiel” livro de John Le Carré que virou filme dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles e que vale a pena ver e rever. Para encerrar: um colega meu trabalhou na implantação e desenvolvimento de hospital num país africano. Ganhava bom dinheiro embora viajasse muito. Na última vez que nos encontramos ele me explicou porque saiu daquele trabalho: “os caras começaram a comprar remédios “genéricos” feitos ou embalados no porto de Roterdã, de origem absolutamente duvidosa e que lhes dá um lucro abissal. Não preciso de ganhar dinheiro assim. Sai do negócio.” É assim que o mundo rico trabalha o mundo pobre...

terça-feira, 8 de junho de 2010

Hotéis: cai o luxo

Deu no The Wall Street Journal (via Valor): a rede Four Seasons Hotels & Resorts vai reduzir custos nos seus luxuosos hotéis. Na verdade a pressão vem dos proprietários dos imóveis que têm a marca contratada já que a FSH&R não possui mais hotéis desde que começou a vendê-los nos anos 1980. Hoje são 82 hotéis no mundo sustentando essa cara marca criada em 1961 pelo fundador da rede Isadore Sharp. Em 2009 a taxa de ocupação desses hotéis teria ficado em 57% e a receita por quarto disponível caído 26%. Com uma diária média de US$400, boa parte dos estabelecimentos que ostentam a marca não consegue um bom GOP. Discussões e tensões entre estabelecimentos e marcas administradoras são comuns e depois da crise de 2008, ficaram mais freqüentes. A Four Seasons tem um padrão de luxo como flores frescas todos os dias nos vasos das áreas comuns e nas UH e camareiras que repassam as unidades a cada saída do hóspede independente da arrumação diária. Pois esse luxo vem sendo considerado desnecessário pelos proprietários e acionistas e hoje a rede diminui seu quadro de pessoal dando aos que ficam um treinamento para polivalência e flexibilidade em sua atuação, uma receita de há muito conhecida em toda a indústria hoteleira. A Four Seasons tem hoje novos donos e o fundador, embora seja o Chairman, tem apenas 10% dos negócios. O restante é dividido entre o príncipe saudita Alwaleed Bin Talal que detém 45% e a Cascade Investiment LLC, que pertence a Bill Gates, conforme já tratamos aqui neste Blog. O uso da marca e o modelo de gestão dão a Four Seasons uma taxa aproximada de 3,5% da receita dos hotéis e o valor dos 45% do príncipe saudita foi anunciado à época (2006) em 3,7 bilhões.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Cinema e Turismo

Desde os anos 80, entusiasmado com o sucesso do filme Crocodile Dundee, rodado na Austrália, dirigido por Peter Fairman e estrelado por Paul Hogan e Linda Kozlowski, que se casaram depois do filme, falo e escrevo sobre a importância do cinema para o turismo. Mais recentemente, em 2004, o diretor Alexander Payne nos ofereceu o filme Sideways, que mostra os vinhedos da Califórnia com o maior merchan no varietal Pinot Noir. Ninguém tem dúvida sobre o aumento da demanda para as visitas aos vinhedos da Califórnia pelos estadunidenses e do consumo do Pinot Noir mundo afora.
O cinema sempre foi uma ferramenta de propaganda. Para o bem e para o mal. O recente Lula, o filho do Brasil, por exemplo, foi feito para a campanha eleitoral e não deu muito certo nas bilheterias. Os marqueteiros não se deixaram abater: estão exibindo o filme nos lugares mais ermos que se pode imaginar, no modelo Cinemas, Aspirinas e Urubus. Hitler usou o cinema às pampas e os EUA também, na Segunda Guerra, na Guerra Fria e no tempo do Vietnã.
Temos vários filmes premiados, bons de fato e até indicados para o melhor estrangeiro do Oscar. Mas o tema deles não é para atrair turistas. Vejamos: Central do Brasil, 1998, dirigido por Walter Salles, trata da miséria urbana e do sertão. É um belo road movie, mas não atrai viajantes curiosos. Tropa de Elite, 2007, é outro. O diretor José Padilha fez um bom filme. Mas ele atrai turistas? E Salve Geral? O diretor Sérgio Rezende filmou a matança que o PCC, uma sigla do crime organizado, teria promovido em São Paulo à véspera das eleições para Presidente da República em 2006. Convenhamos, não é nada atrativo.
O cinema voltado para o turismo tem que ter roteiro especificamente feito para isso. Nada como um galã europeu ou estadunidense que vem conhecer o Pantanal, a Amazônia ou praias nordestinas e conhece aqui uma Camila Pitanga ou uma Gisele Itié. Já pensou? Muitas paisagens, mulheres e homens bonitos e sem mostrar periferia ou violência. Um filme de alegrias. Já se falou em financiar o Wood Allen para fazer aqui algo como Vick, Cristina e Barcelona. Por que não? Essa também é uma boa solução. Melhor financiar um filme desses do que botar dinheiro em escolas de samba do Rio de Janeiro, como têm feito alguns estados nordestinos.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Trem Bala: é preciso?

Os jornais têm noticiado os caminhos para a construção do Trem Bala ou o Trem de Alta Velocidade, o TAV. O investimento tem sido visto como temerário pelos potenciais investidores pelo preço dos bilhetes versus o custo do investimento, nada menos do que R$34,6 bilhões. Um dado de grandeza para a comparação do investimento: a usina de Belo Monte é estimada pelo governo em R$19 bilhões e pelas empreiteiras em R$32 bilhões. Cada um que reflita sobre os benefícios de cada um desses investimentos, ressalvadas as questões ambientais e soluções alternativas de geração de energia. Bem, o TAV deverá rodar a 200Km/h e, portanto, cobrirá o trecho de 511Km entre Campinas, Viracopos, São Paulo (Campo de Marte) São José dos Campos, Barra Mansa, Rio de Janeiro (Galeão) em duas horas, descontadas as paradas. Tive a chance de viajar três vezes pela AMTRAK, empresa ferroviária estadunidense, entre Washington e Nova York. Carros muito confortáveis, aquecidos no inverno e refrigerados no verão. Largas poltronas com mesinhas que comportam bem a sua refeição, comprada no “carro Delicatessen” ou o seu laptop que pode ser ligado à tomada. Uma vez fui no carro de luxo, sem muita diferença com a desvantagem de que fica no final do comboio e joga um bocado. Nesse caso o diferencial é a refeição que lhe é servida, nos moldes (melhorado) das companhias aéreas. O AMTRAK, sem barulho e poucas paradas, faz o trecho de 360km Washington/Nova York em 2 horas e 45 minutos. Tem portanto, uma velocidade média de 146Km/h. Se formos levantar os custos de implantação de um e de outro investimento, com certeza, vamos nos deparar com grandes números. Com o trem podemos descer no centro das cidades sem o atropelo de esteiras de bagagem, sem scanner para o corpo e sem aquela distância de até R$100,00 de taxi preso no trânsito com arrastão de sobremesa. Podemos alegar que a AMTRAK está lá nos EUA desde o século 19 melhorando os seus serviços e que nós, que não os temos, devemos começar com um investimento moderno. Vá lá. Mas para que tanta velocidade? Ao final e ao cabo, se forem mesmo 200 quilômetros por hora, não será grande a diferença. As pessoas sabem como se programar e saberão utilizar um trem com menor velocidade analisando os benefícios que ele apresenta em relação aos aviões e aeroportos. Enquanto isso, aí vêm as estatais estrangeiras de olho nesse negócio que terá uma “chave de emergência” no contrato: se a demanda for fraca os investidores poderão baixar as tarifas e, portanto, pagar em maior prazo o financiamento. Do valor de R$34,6 bilhões, o governo brasileiro vai financiar 27,68%, colocar mais 3,46% de participação (Petrobrás, Previ e Cia) enquanto os japoneses ou coreanos ou franceses ou alemães ou muitos deles juntos, colocarão 3,46% e muita tecnologia. O valor teto definido pelo governo para a tarifa a ser cobrada é de R$0,60 por quilômetro, o que dá R$306,60 de Campinas ao Rio de Janeiro. Entre o Campo de Marte (SP) e a estação de Barão de Mauá (RJ) com 412,3km, o valor do bilhete seria de R$247,38, quantias nada competitivas com as empresas aéreas hoje. A vantagem de uma ferrovia normal como a da AMTRAK é que ela dispõe de trilhos e desvios e mantém o transporte de cargas nos períodos em que o tráfego de passageiros é menor, como a noite e finais de semana. Afinal, como podemos conceber uma ferrovia que não transporta cargas? Em qualquer sociedade do mundo, os que estão no topo máximo da pirâmide sempre vão se utilizar de transportes próprios. Por que têm pressa e porque, sabe-se lá, têm preconceitos com o transporte público que, de resto, nem sempre é agradável nos horários de pico. Em Paris, NYC, Berlim ou São Paulo. Esse último, abaixo da crítica. Então é assim: proponho uma concorrência para um trem rápido, de poucas paradas e que possa também transportar cargas. Um modelo AMTRAK já serve. Pode ser também um modelo do TGV francês, senão o meu amigo Hélcio vai dizer que sou americanófilo. Sim, o trem francês é uma boa solução e pode deixar também espaço para carga nos seus trilhos. Tanto faz. O importante é que as empresas venham investir e operar o negócio. Sem que gastemos essa montanha de dinheiro enquanto a saúde a educação soçobram. Por que por enquanto, só sobram idéias para a continuidade do lulismo.

domingo, 16 de maio de 2010

Copa e Olimpíadas: Isso é bom?

Se um estudo técnico com alguma profundidade fosse feito para determinar se é vantajoso para o Brasil fazer os investimentos necessários para os dois mega eventos World Cup 2014 e Rio Olympic Games 2016, provavelmente o resultado seria censurado pelo governo Lula. Não são poucos os casos dos países que receberam grandes eventos que exigem instalações especificas como as Olimpíadas e tiveram decepções na ponta do lápis. Claro, é possível falar do recall que tais eventos dão ao país que os hospeda. Mas será isso o bastante? Indo direto ao ponto: todo esse investimento que o governo fará em instalações resultará num retorno com alguma proporcionalidade para a atividade econômica do turismo? Quantas obras ficarão abandonadas depois dos jogos, como aconteceu no Pan? Claro que a Copa e as Olimpíadas vão gerar empregos nos períodos de suas realizações. Haverá um bom movimento e uma boa receita. Mas será proporcional aos investimentos? Com certeza temos outras prioridades, mesmo no turismo, para ganharmos espaço e recall internacional. Só para lembrar: rodovias boas, aeroportos, ferrovias e...segurança. Por outro lado, um evento do porte das Olimpíadas no Rio soa até como uma provocação. Sim, vai dar certo. Mas a que preço?

domingo, 9 de maio de 2010

Sergio de Paula Santos

No começo dos anos 1980 conhecer vinhos não era ainda uma habilidade que agregava charme aos executivos, pelo menos para a grande maioria deles. À época a Almaden ganhava o mercado nacional tranqüila em razão das altas taxas para a importação de qualquer tipo de produto pelos brasileiros. O SENAC era um dos poucos espaços, senão o único, que oferecia a oportunidade para que os leigos se aproximassem do bálsamo de Baco. Aristides de Oliveira Pacheco, um enólogo autodidata com curso de gestão hoteleira em Lausanne, Suíça, era o colega que fazia a ponte com os enólogos das diferentes bandeiras nacionais e estrangeiras. As publicações sobre o tema inexistiam no Brasil e o seu pioneiro foi um médico otorrino, cinqüentão e viajado que apreciava e conhecia de vinhos para discutir com os enólogos das vinícolas. Era o doutor Sergio de Paula Santos que participava dos eventos, dava sua contribuição e fazia questão de enfatizar que escrevia sobre vinhos porque entendia que o brasileiro deveria se iniciar nesse saudável hábito de uma taça diária da bebida. Depois daquele início de década, Paula Santos lançou mais oito livros, sempre sobre enogastronomia e colecionou palestras, certificados, bons amigos de confraria e, sobretudo, vinhos e livros sobre esses temas: boa comida e bons vinhos. Sergio de Paula Santos deixou esse mundo aos 80 anos no dia 04 de maio de 2010. Os amantes do vinho têm uma dívida para com ele, que foi precursor de um tema sobre o qual muita gente hoje em dia, fala muito e sabe pouco.

terça-feira, 27 de abril de 2010

HABIB´S

O Estadão de 26 de abril trouxe matéria de uma página em seu caderno de “Negócios” sobre o Habib´s, o genuíno fast food brasileiro. O tema vale a matéria e eu escrevi sobre a rede no meu livro “Introdução ao Universo da Hospitalidade”, publicado pela Papirus em 2005. A rede é um produto do empreendedorismo do médico Alberto Saraiva que assumiu a padaria da família num traumático momento quando o pai foi assassinado, vítima de um assalto ao seu estabelecimento. A visão inicial de Saraiva para a padaria foi a de focar no público de menor renda e vender pão barato. Essa visão estratégica nunca mudou e foi o que alavancou a sua rede por todo o país com alta tecnologia na produção de alimentos e rigor na gestão dos franqueados. A matéria mostra um empreendedor centralizador, bem sucedido e que hoje arruma a governança de seus negócios rumo à Bolsa. Os números do Habib´s são impresionantes como, por exemplo, 18 mil empregados e 600 milhões de esfihas por ano. Além disso, ao tentar resolver os próprios problemas acabou por entrar nos negócios de toda a cadeia do fast food e hoje mantém uma indústria de pães e sorvetes (Arabian Bread); uma empresa de Call Center (Voxline) com 2,4 mil empregados prestando serviços para grandes empresas; um laticínio (Promilat) que processa 130 mil litros de leite por dia; uma agência de publicidade (PPM) que faz as peças e campanhas do grupo; uma empresa de arquitetura (Vector 7) que projeta e decora lojas; uma imobiliária (Planej) que trata dos negócios imobiliários do grupo, e uma agência de viajens (Bib´s Tur) que atende o público externo. Pode-se não gostar do jeitão das lojas e dos seus produtos (o pastel português é imbatível e foi uma criação “imposta” pelo Saraiva contra todos os seus colaboradores e que deu certo) mas há de se reconhecer que Alberto Saraiva é um empreendedor que, como Amaro Rolim (in memorian) criou uma empresa que, como a TAM, “tem orgulho de ser brasileira”.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Praça de Alimentação

Nos anos 1980 o Shopping Eldorado, na zona Sul de São Paulo, foi o pioneiro ao estabelecer em definitivo, no país, o conceito de praça de alimentação. Era um modelo arquitetônico absolutamente estadunidense no qual até as medidas dos móveis e banheiros vieram no padrão do Tio Sam e mereceram reparos posteriores. O sonho da família Veríssimo não era pequeno. Aquela pirâmide de concreto e vidro deveria receber ainda um hotel que completaria a grande estrutura de compras, alimentação, lazer e entretenimento. Era o que eles pretendiam com uma grande casa de show, diferentes restaurantes, um moderno Saloon, cinemas e o Parque da Mônica. Infelizmente o projeto tomou outros rumos e o mercado de Shoppings também cresceu de forma espantosa. Quase 30 anos depois, quando o mundo todo tem o conceito de praças de alimentação em estações ferroviárias, rodoviárias e aeroportuárias, além de museus, prédios antigos e tombados, universidades e instalações militares (a Burger King montou lanchonetes para a o US Army nos front atuais) alguns especialistas começam a advogar a volta de ambientes fechados para essas praças. Explico. Eles alegam, corretamente, que há um tipo de cliente que precisa de alguma privacidade no seu almoço, ainda que esse tenha que ser rápido. De fato, numa praça de alimentação, por mais chique que possa ser o ambiente, não se pode falar em privacidade e muito menos em silêncio. Os grandes ambientes fazer reverberar o som e a correria entre 11am e 02pm torna impossível a concentração para uma conversa de negócios. Li uma vez um artigo de um francês que comparava as praças de alimentação aos banheiros públicos masculinos, com as pessoas esperando com ansiedade que o outro desocupe o lugar. A tendência pode voltar nas regiões geograficamente mais abastadas freqüentadas por executivos que garantam essa demanda. O fato é que o conceito de praças tem um princípio fundamental que é a maximização (e compartilhamento) do espaço que permite, em tese, o benefício de um menor custo por Mt2 por restaurante que se traduz no menor preço para o cliente. Há uma tecnologia de produção, pré-preparo, manipulação e entrega dos alimentos nesse sistema. A qualidade dos pratos pode ser possível sem o conforto do espaço privado que é compensado pelo preço. Simples assim, mas nem tanto. As praças são desconfortáveis e os alimentos são caros. Na verdade, o que as cidades brasileiras precisam mesmo é resgatar o espaço público das ruas. Quando elas forem mais seguras, menos poluídas e com paisagismo adequado, as praças poderão ter outro significado.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Brasileiro gasta no exterior

Deu no Estadão, assinado pelo jornalista Fernando Nakagawa: os brasileiros gastaram no mês de janeiro deste ano R$1,2 bilhão em viagens para o exterior. Essas despesas compõem 31,6% de todo o déficit de transações correntes do mês. O jornal diz que nos anos 1980, o porcentual dos gastos com turismo representava 3% do déficit. Para se ter uma idéia do aumento das viagens e volume de gastos, em fevereiro de 2009, o gasto foi de US$553 milhões ou R$985 milhões aproximadamente. O aumento porcentual de um ano para o outro foi de 72,4% e corresponde a um gasto de US$27 mil por minuto/brasileiro no mês de janeiro de 2010. Dá para se imaginar gastando esse dinheiro? É bem capaz que nem mesmo os cartões corporativos do Planalto alcancem esses números. A divisão desses gastos contempla 68% de gastos com cartões de crédito em pagamentos de hotéis, bilhetes aéreos, aluguel de carros, lojas e restaurantes. Pacotes de viagem e pagamentos em dinheiro compõem 28% das despesas. As viagens de negócios, pasmem, foram responsáveis por apenas 2,3% dos gastos. Educação e esportes tiveram 0,2% do total e por razões de saúde, apenas 0,1%. Em 2005 os negócios representavam 5,41% das despesas no exterior e a educação cravava 2%. Somem-se a essas despesas os investimentos que serão feitos para a Copa 2014 e para as Olimpíadas de 2016 e o rombo do turismo não terá fim, jamais. Basta dar uma volta pelo mundo e ver o que acontece com as instalações que foram feitas para hospedar eventos dessa natureza em diversos países e o que eles acham desse tipo de negócio. O governo federal tem discurso para a agricultura familiar mas se esquece do turismo para as pequenas comunidades.

quarta-feira, 3 de março de 2010

GANÂNCIA

A estabilidade econômica gerada pelo Plano Real há quinze anos atrás mostrou aos empreendedores brasileiros que é possível um ganho em escala também em nosso país. Acostumados com os ganhos da inflação, muitas empresas vendiam pouco por muito e para poucos. Assim era sobretudo com os serviços da aviação civil e os pacotes de turismo. O crescimento vertiginoso da inflação não permitia o uso de cartões de crédito e muito menos vendas a prazo. As mudanças que vieram com a estabilidade favoreceram uma “inclusão aérea e turística”. Nos últimos cinco anos essa inclusão começou a chegar também às classes D e E, com bons preços de bilhetes para viagens de avião a longo prazo, gerado pela concorrência entre as empresas. Levadas pelo otimismo com a demanda, essas mesmas empresas já se mostram gananciosas. A “6ª Pesquisa Anual de Conjuntura Econômica do Turismo” realizada pelo Ministério do Turismo em parceria com a FGV mostrou que as empresas do setor de aviação pretendem reajustar as tarifas em 9,2% em relação a 2009. A explicação é a de que no ano passado os preços do segmento caíram 4,1%. É curiosa essa reação uma vez que o aumento da demanda pode ter acontecido exatamente pela queda de preços gerada pela concorrência. Para atenuar essa posição o setor acena com um aumento da empregabilidade por volta de 4,9%. E daí?

segunda-feira, 1 de março de 2010

O mundo da Alimentação

No começo dos anos 1990 eu participava, em Washington DC, de um evento Latino americano de educação em hospitalidade quando um dos participantes nos convidou para visitar o Departamento de Comércio dos EUA para entender sobre as tendências da área de serviços e do turismo. Foi surpreendente o pequeno número de técnicos que eram responsáveis pela coleta de informações e pesquisas daquele departamento de Estado. Eles contavam com pesquisas de universidades e serviços terceirizados. O que me marcou da visita foi a tendência de crescimento para o setor de alimentação previsto para a próxima década: cerca de 80%, no mundo. A senhora que nos atendia ainda brincou com a situação: “80% de qualquer coisa é muita coisa”. Desde então a proliferação de praças de alimentação, restaurantes e serviços de entrega de comida pronta em escritórios e residências foi estonteante. Tomemos por base a cidade de São Paulo. O que tínhamos em 1990 e o que temos hoje? Segundo pesquisa da Associação Brasileira da Indústria de Alimentação (ABIA) comer fora de casa no Brasil gerou o movimento de R$58 bilhões em 2009 e deve crescer mais 10% neste ano de 2010. Outra pesquisa, da GFK Brasil, mostra que 51% da população come fora de casa com regularidade sendo que 23% fazem isso todos os dias, incluindo os finais de semana. A pesquisa mostra ainda que o gasto semanal per capita no Brasil é de R$67,13 no almoço e R$76,77 no jantar. Esses números tendem a um crescimento maior, ainda não estimado, por conta dos dois grandes eventos que o país vai hospedar em 2014 e 2016, a Copa do Mundo e as Olimpíadas, respectivamente. Certamente, vinte anos depois da previsão do Departamento de Comércio estadunidense, o setor possivelmente tenha crescido mais de 80%. E 80% de qualquer coisa, são mesmo muita coisa...

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

A Copa 2014 e a Mão de Obra para a Hotelaria

Órgãos governamentais e entidades corporativas ligadas ao turismo costumam apontar a falta de mão de obra qualificada sempre que tratam do crescimento dessa atividade econômica no Brasil. Nos últimos meses, por conta dos dois grandes eventos programados para os próximos anos, a Copa 2014 e as Olimpíadas 2016, essas instituições têm pregado e cobrado com insistência uma solução para a questão. A rigor, se tomarmos como base os cursos oferecidos no país para a formação de bacharéis e tecnólogos em turismo e em hotelaria, não haveria o que reclamar. A oferta desses cursos teve um brutal crescimento nos últimos quinze anos. Nos últimos cinco anos, no entanto, o fechamento de cursos aconteceu com a mesma rapidez, por absoluta falta de demanda. Para quem acompanha o mercado isso não se constitui novidade. Era de se esperar. Nesse curto espaço, aponto três questões que são fundamentais para a análise desse cenário. A primeira diz respeito à qualidade dos cursos oferecidos. Boa parte deles carece de maior seriedade e surgiu numa bolha de oportunidades em meados dos anos 1990. A segunda é com relação à expectativa e a frustração que o egresso desses cursos tem com relação ao mercado e aos ganhos oferecidos por ele que não são nada atrativos. É possível que mais de setenta por cento dos formados em turismo ou em hotelaria nos últimos dez anos estejam atuando em outras áreas do mercado. Finalmente a terceira, diretamente ligada à primeira, é a sutil diferença que sempre fiz entre “Escolas de Hotelaria” (ou turismo) e “Cursos de Hotelaria”. As primeiras, como a de Geraldo Castelli, Senac (em todo o Brasil) Universidade Caxias do Sul, Univali, Anhembi, PUCamp e FMU, são aquelas que mantêm uma cultura voltada para essa área, investindo em seus profissionais e mantendo estudos e publicações a respeito. Já os “cursos” são apenas mais um serviço educacional pendurado em instituições que oferecem grande leque de programas e não têm para com a hotelaria ou o turismo uma dedicação maior. Pode parecer um viés corporativo. Mas não é. Longe disso, a questão é que esses campos do saber exigem de seus aprendizes um aprofundamento tanto operacional quanto de gestão. Hoje a indústria hoteleira espera de seus profissionais uma larga competência na gestão financeira e que eles sejam capazes de se constituir em asset managers. Espera-se deles também que dominem outro idioma além do português, o que é uma grande dificuldade pois nem cinco por cento dos estudantes desses cursos têm algum domínio de outro idioma. Já do ponto de vista a mão-de-obra da base da pirâmide é uma questão de políticas individuais de cada rede que deve qualificar seus empregados. Os profissionais com curso superior nessas áreas devem funcionar como agentes multiplicadores para o pessoal de base. Enfim, a muito que se discutir sobre o tema...

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

BNDES & Copa 2014 = Hotéis com $

BNDES & Copa 2014 = Hotéis com $ para a modernização
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social –BNDES- criou programas especiais para fomentar os investimentos em hotelaria visando a Copa de 2014 no Brasil. Sob o título de BNDES Prócopa Turismo, o banco oferece recursos com prazos de amortização em até 12 anos para a remodelação/modernização das UH existentes e até 18 anos para a construção de novas UH. Os projetos que levarem em conta a preocupação com o meio ambiente, traduzida em maior eficiência energética e sustentabilidade ambiental e que tenham certificação de alguma organização creditada pelo INMETRO, poderão obter um ganho no prazo de até 10 anos. No caso da construção de novas UH o prazo poderá chegar a 15 anos (18 no máximo). Essa preocupação ambiental contempla, além da eficiência energética a racionalização do uso da água e a gestão de resíduos. Nas operações diretas, os juros do programa variam entre 6,9% (micro, pequena e média empresa) e até 8,8% (grande empresa), mais o spread de risco. Para se candidatar aos recursos do programa, os proponentes devem encaminhar seus pedidos até 31/12/2012.
É uma boa oportunidade para os hoteleiros independentes adaptarem seus estabelecimentos para uma marca internacional. A conferir