quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Café & Antropologia

Em janeiro deste ano escrevi neste blog matéria sob o título Reflexões sobre a globalidade na qual abordei a questão da inserção forçada de novos costumes nas diferentes sociedades. Falei então da invasão da Coca Cola na China e na África, onde interferiu na milenar tradição do consumo do chá. No Norte africano os Tuaregues foram assediados até com brindes como geradores portáteis e geladeiras para “tomarem gosto” pelo refrigerante negro. Dizem que o chá quente tem efeito na resistência desses povos nômades ao calor do deserto. Já a Coca Cola manda mais sódio para o organismo deles. Mas o que fazer? Até motos e quadiciclos vêm substituindo os camelos as areias saarianas...

Vejo no noticiário econômico desta semana que o Brasil entrou no grupo que “ajuda a China a estimular o consumo de café”. Até posso ver um rosto simpático como aquele da bióloga brasileira que, ativista do Green Peace, foi presa na Rússia, dizendo com algum espanto:
- Por que eles têm que gostar de café, Santo Deus? Não consomem chá há milênios e estão bem?
Ah, minha doce ativista, porque na lógica do mercado eles representam uma colossal arena sem tradição de consumir café, mas com todas as condições para se transformar no maior consumidor global dos derivados da Rubiácea.
O consumo dos Estados Unidos é, em 2013, de 23,5 milhões de sacas de 60 quilos\ano. Já a China, de acordo com previsões tidas como otimistas, deve consumir 2,8 milhões de sacas em 2020.
Segundo a Organização Internacional do Café, em 2012 os chineses consumiram 1,1 milhão de sacas ou magras 25 gramas por habitante.
Os executivos da área cafeeira são otimistas e miram o exemplo do Japão que, com costumes relativamente parecidos em relação ao chá e alimentação sem gorduras (os chineses têm maior consumo de frituras e gordura animal), aderiram ao consumo do café e são hoje o quarto país em consumo do produto atrás apenas dos EUA, Brasil e Alemanha.
Para Bunco Wong, presidente da Associação Chinesa de Cafés Especiais (CSCA, na sigla em inglês) os jovens são a grande esperança nessa virada de consumo uma vez que são mais abertos aos costumes ocidentais. Nos grandes centros urbanos do país cresce o número de cafeterias sempre cheias de jovens seguidores do modismo ocidental do capitalismo-comunista.
Segundo Wong, 97% da população chinesa consomem chá e apenas 7% “têm experiência” com café, o que não se traduz em consumo diário. Já os que compram cafés especiais chegam a 3%.
Verdadeiras operações de guerra vêm sendo montadas pela CSCA para “ensinar” os chineses a apreciar um bom café. Entre as justificativas para essa interferência cultural e econômica está a de que o consumo de café deve gerar boas possibilidades de emprego para um contingente de quatro milhões de jovens que saem das universidades todos os anos.
Então. Economistas e engenheiros recém-formados vão virar balconistas de franquias da Starbucks?
As primeiras cafeterias foram abertas em Hong Kong no final da década de 1980 e o costume, devagar, migrou para o continente.
Os chineses, de acordo com Wong, gostam de café muito doce e misturado com muito leite. Muito pouco chinês esse perfil.
O jovem Bunco Wong esteve recentemente no Brasil e gostou do trabalho da Associação Brasileira da Indústria do café (Abic), sobretudo no que diz respeito ao Programa de Qualidade do café (PQC).
Entre os temas das conversações dois pontos ficaram no horizonte para brasileiros e chineses: organizar um instituto na China para processos de colheita, pós-colheita e classificação de grãos. Já os chineses, em contrapartida, têm interesse em desenvolver novas máquinas de café expresso e coloca-las no Brasil.
Assim funciona o mercado. Quem produz tem que buscar consumidores. Essa lógica impulsionou a navegação e os descobrimentos na Idade Média e assim tem sido.
Não se trata de um simples processo de distribuição, mas sim, de uma interferência sócio antropológica.
Se o cinema estadunidense influenciou diferentes sociedades mundo afora desde os anos 1930, nem de longe podemos comparar esse fenômeno com essas mudanças radicais em costumes alimentares como vem ocorrendo desde meados do século vinte.
Sim, porque não se trata de apenas oferecer um produto, montar lojas ou fazer promoção. Trata-se de verdadeira lavagem cerebral no sentido de tornar comuns práticas alimentares que ferem as tradições de nações e levam a mudanças em toda a cadeia, desde a produção no setor primário até o consumo pelas novas gerações.
Na matéria de 16 de janeiro de 2013, falei aqui neste blog sobre a força das cervejas em países como Portugal, Espanha e Argentina, derrubando o consumo do vinho. Da mesma forma o tabaco invade regiões do mundo onde a legislação não tem preocupação com a saúde da população. Ou vendem Coca Cola para os Tuaregues.
Nunca duvidei de que a livre iniciativa e a livre economia, com regras básicas e fiscalizadas pelo Estado, é que trazem crescimento, progresso e fartura para as nações.
Mas tudo tem um preço.

Fonte: Valor Econômico, Carine Ferreira, 26\11\13        

sábado, 23 de novembro de 2013

Astros mirins e sensualidade

Abro a página da UOL e vejo que a atriz Abigail Breslin fez ensaio sensual entre espumas e lençóis, aos dezessete anos. Breslin foi indicada para o Oscar em 2002 por seu papel como filha do personagem principal em Sinais atuando ao lado de Mel Gibson.
Mas a menina ficou mesmo conhecida como a irresistível personagem do filme Little Miss Sunshine, em 2006. Não resisti. Recorri a Wikipédia.
Abigail Kathleen Breslin nasceu em abril de 1996 em NYC, filha de pais que trabalham com Telecomunicações e TI. Tem dois irmãos que também são atores, mas nada consta deles sobre trabalhos diferenciados como os dela. Sobre a menina não se pode dizer que seja uma atriz diferenciada. É certo que ela apresentou um jeito muito espontâneo na sua personagem em Miss Sunshine. Talvez tenha sido mais convincente como a órfã em Sinais.  
O que me fez buscar mais notícias sobre a menina foi a história de querer mostrar seu corpo ou “ousar mais” para o público. Ela não é a primeira. Mas me intriga mesmo assim.
Há dias vi num telejornal a atriz Miley Cyrus, principal figura da série da Disney Hannah Montana num clipe no qual, nua, lambe sensualmente um martelo. E a notícia foi longe, mostrando o comportamento abusado na menina em outros shows.
Cyrus, nascida Destiny Hope Cyrus, sabe bem o que faz. É um jogo mercadológico. Quer ser vista como mulher. E mulher para instigar os desejos humanos. Masculinos ou femininos.
Vi o clipping no qual lambe o martelo. O roteiro do vídeo a mostra sentada e balançando numa bola de aço, dessas de demolição. Ela beija também a corrente que prende a bola. E derruba as paredes no refrão da música. É bonita e se reveza entre a nudez e calcinha e sutiã. Sempre usando coturno.
Nem sempre artistas mirins sabem lidar com a fama. Drew Barrymore foi um exemplo. Depois do sucesso de ET, o filme de Spielberg (1982) no qual faz a irmã do personagem principal ela viveu péssima fase envolvida com álcool e drogas. Teve muita sorte na recuperação e hoje é uma atriz respeitada em Hollywood, em comédias e dramas.
Outro nome mirim famoso é Macaulay Culkin, nascido Macaulay Carson Culkin em 1980. Depois do sucesso da sequência de “Esqueceram de mim”, o ator viu-se envolvido em problemas que começaram em casa. Seus pais disputaram, literalmente, a tapa, sua fortuna de 17 milhões, à época. Crescido e moço, Culkin não se revelou tão bonito quanto na infância. E menos talentoso.
Seu nome na mídia apareceu mais ligado a escândalos, como o suposto envolvimento sexual com Michael Jackson e sua prisão por porte de maconha e anfetaminas.
A trajetória de astros mirins nunca foi linear.
Para os atores, quando a cabeça é boa ou bem orientada, a escada é menos íngreme uma vez que eles podem ir mudando de papéis para personagens mais velhos. Assim um ator pode ir da infância até representar como avós e sábios anciões. Mas nem sempre é linear.
Para os astros mirins de muito sucesso, a adolescência e a entrada na maturidade podem se revelar uma armadilha. Sua graça infantil pode não se manter aos quinze anos. Eles podem estar gordos ou mesmo sem charme. Pode também ocorrer um hiato na adolescência e eles voltarem a ter charme aos vinte anos. Ou simplesmente podem não ter o talento e a espontaneidade da infância.
Esse risco pode também ocorrer no ocaso da carreira, quando eles devem passar a interpretar pais e avós de outros galãs. Mas essa é outra história.
Envolvimento com drogas parece estar na razão direta das estruturas familiares e de como tratar com o sucesso tão prematuro.
Já a necessidade de mostrar ao público que “agora sou sensual” parece mesmo uma necessidade de virar adulto, de sair daquele casulo da virgindade, cair no mundo. A questão é a dosagem disso.
Para os artistas da música esse caminho é ainda pior. Eles têm que mudar o repertório e a imagem. Nessa perspectiva está a mudança para um público que, acreditem, pode ser o mesmo de quando tinham seus oito anos e cantavam para outras crianças de também oito anos.
Essas mesmas crianças, quando chegam aos dezoito anos, gostam de sons melhor definidos do que aqueles pops do tipo Sandy & Júnior ou Hannah Montana. E os artistas têm que fazer a sua opção pela nova linha de sua música e pelo visual mais adulto. Em geral mais sensual.
Trata-se de um reposicionamento de produto que deve ser trabalhado ao longo da carreira. Na medida de seu amadurecimento o astro da música deve ir repaginando sua imagem e produtos de modo a tornar quase natural a sua mudança e a consolidação de “nova” carreira.

Miley Cyrus, com certeza, não lambeu aqueles ferros à toa, com tanta espontaneidade. Há muito marketing por trás desse gesto.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Cinema e Saúde: Tecnologias

Quando eu tinha entre oito e dez anos, na longínqua Araçatuba, um dos meus passeios favoritos de bicicleta era ir até a estação ferroviária da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, NOB. Gostava do que via.
A praça em frente à estação era calçada com paralelepípedo e sombreada por várias árvores de fícus. Aquele calçamento me lembrava São Paulo e eu gostava de curtir aquela micro paisagem transportando-me para a Capital, seus bondes e seu movimento metropolitano.
Mas para além dos paralelepípedos, gostava de procurar na plataforma de embarque\desembarque por uma preciosa e anunciadora mercadoria: as latas com os filmes que seriam exibidos nos cinemas da empresa exibidora Pedutti. Era com certo deleite que via, ali no chão da estação, os títulos dos filmes pregados naquelas latas redondas: East of Sumatra ou Flash Gordon on The Planet Mongo.
Corta para 2012.
Minha amiga Madrasta (o carinhoso apelido resulta da personagem que ela interpretou quando adolescente – também em Araçatuba – numa versão que dirigi de A Gata Borralheira) que é esportista adepta do pedestrianismo e faz exercícios regularmente pelas ruas da USP correndo em média doze quilômetros por dia, me mostrou um brinquedinho novo. Trata-se de um relógio de pulso que mede e registra diversos dados do corpo humano durante os exercícios: pressão sanguínea, batimentos cardíacos, quantos metros correu, qual a velocidade média, o comportamento da pressão etc.
Corta para 2013.
Leio no jornal sobre dois assuntos correlatos às minhas lembranças acima.
Primeiro sobre o cinema. Os rolos, que já não são mais utilizados e foram substituídos pelos discos digitais, ficarão mesmo nos museus e cinematecas. Isso porque os grandes estúdios e distribuidoras estão finalizando sistemas de transmissão de seus filmes, para os cinemas, via satélite.
No Brasil a Ancine, Agência Nacional de Cinema, estabeleceu o prazo de 2014 para que todos os cinemas substituam os projetores analógicos pelos digitais. O sistema digital, embora dispense as fitas em celuloide, ainda usa aparato físico em razão do uso dos DVDs e sua gravação.
Já o novo sistema, via satélite, dispensa tudo isso.
Com uma antena de 2,5 metros, softwares de segurança para impedir que os arquivos sejam copiados ou que os exibidores reproduzam os filmes em mais salas do que as contratadas, as empresas exibidoras podem receber os filmes, simultaneamente, para mais de 150 salas em 50 diferentes cidades do país.
A empresa SES Global, baseada em Betzdorf, Luxemburgo, já foi contratada por empresas brasileiras para fazer essa distribuição a ser consolidada de vez em 2014. Ou seja, latas redondas com filmes de celuloide, como aquelas da estação da NOB ou como as que pegaram fogo e cegaram o protagonista de Cinema Paradiso chegaram mesmo ao fim.
A novidade é uma tecnologia cercada de diferentes aspectos de segurança no mesmo padrão já utilizado por um consórcio das grandes empresas estadunidenses como Disney, Paramont, Universal, Lionsgate e Warner Bros, que leva o nome de Coalisão de Distribuição Digital de Cinema, DCDC.
Com custos variando entre 250 e 300 mil reais para a adaptação do equipamento que recebe o filme via satélite, as empresas distribuidoras consideram menos onerosa e mais segura essa forma do que o sistema digital hoje existente que demanda maiores cuidados e ainda pode ser vítima de pirataria.
De olho na maximização do uso de seus espaços, os exibidores já farejam possibilidades de exibição, ao vivo, de grandes eventos em suas salas como jogos da Copa do Mundo, grandes conferências mundiais, Olimpíadas e outros.
Estamos a poucos passos de transformar “É tudo verdade” (Festival Internacional de Documentários) em “É tudo ao vivo”. Imaginemos um cinema que mantenha um canal direto, via satélite, transmitindo horrores da guerra na Síria ou as barbáries de países do Chifre da África.
E sobre o brinquedinho da Madrasta?
Ah, sim.
Trata-se da tendência que vem se consolidando da chamada Wearables ou Tecnologia de vestir.
É como estão sendo chamados os computadores em formato de roupas e que podem medir e monitorar as atividades físicas do indivíduo e conectados a um smartphone ou tablete podendo inclusive checar a fertilidade das mulheres.
As líderes em pesquisas nesse campo são a Sansung, a Apple e a Google. As menores, mas nem tanto, respondem pelos nomes de Pebble, Fitbit, Misfit, Wearable, Withings, Life Comm e outras. Trata-se de um mercado com grandes possibilidades e que tem como foco as empresas de seguro saúde.

No Brasil a empresa Carenet está lançando o seu primeiro produto no gênero, o Biosensor. Importado de um fornecedor asiático o produto tem a promessa de nacionalização e deve custar entre 200 e 300 reais.
De acordo com a empresa de pesquisa ABI Research, a venda desses aparelhos de vestir podem chegar em 2013 a 53 milhões de unidades batendo 340 milhões em 2017. De acordo com as pesquisas, esse crescimento será alavancado pela entrada das grandes como a Samsung e Sony nesse tipo de negócio.
Para os entendidos no assunto, “O pulso será dominado pelos relógios inteligentes dos grandes fabricantes. A oportunidade está em outras partes do corpo”.
Nessa perspectiva, a Misfit lançou um monitor do tamanho de uma moeda de um dólar que pode ser usado como um ornamento ou pendurado em qualquer parte do vestuário do usuário.
É hora de nos rendermos às tecnologias. George Orwell não sabia das coisas. Pelo menos não de todas elas.
Mas uma constatação, de há muito está feita: não só as latas com filmes na estação do trem perderam o espaço no cinema. Os relojoeiros suíços, também de há muito, perderam para os japoneses no negócio de marcar as horas.
A abordagem para iniciar assuntos perguntando sobre a hora também já se foi há muito. Mas imaginemos como poderia ser em 2016: ele olha para ela que toma água de coco numa barraquinha do Parque Vila Lobos (pode ser no Central Park também...) e pergunta: como estão os seus batimentos?                

(Dados no Valor Econômico © 2000 – 2013)

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

O tenebroso mundo do Marketing

O Banco Santander foi o campeão das reclamações pelo terceiro mês consecutivo (junho, julho e agosto). A maioria delas se refere à venda de “produtos financeiros casados” e às práticas consideradas abusivas como cobrança de taxas, juros altos e outros problemas correlatos.
Logo atrás do Santander, quem diria, está o Banco do Brasil. Que não se espere que as TVs e jornais falem muito mais do que isso sobre essas duas instituições. Tampouco vão procurar seus executivos para entrevista-los a respeito do problema. O mesmo se dá com as empresas de telefonia celular, cujas Bandas Largas nos oferecem uma margem estreita de possibilidades de navegação.
 Os bancos citados, como as empresas de telefonia móvel são grandes patrocinadores de programas de peso nas TVs e anúncios nos jornais. Por mais tímida que seja a cobertura desse ranking tenebroso– ainda assim, quando se veem “acuados” os executivos que representam essas joias do setor privado costumam dizer um amontoado de anacolutos que se traduzem em cinismo puro.
Assim como as excelências legislativas de Brasília não ouvem as ruas, as empresas privadas flagradas no mau desempenho de sua missão, tergiversam, malufam e seguem tranquilas.
Sou meio obcecado com essa questão de dar satisfação ao cliente. Ah, anos 80! Essa sim foi uma era da inocência em termos do Marketing de Serviços. Foi uma época em que nomes como o de Karl Albrecht e Stan Rapp faziam sucesso tratando dessas questões em seus livros, hoje uma leitura inocente.
Muito se avançou nas diferentes gerações do marketing. Francisco Madia, aqui no Brasil, escreveu sobre o The Sensitive Chamagaroo ou A 11ª Geração do Marketing e analisou consumidor e mercado desde os tempos da caderneta no balcão do armazém até uma “Geração Síntese” onde canais de comunicação e distribuição se fragmentam e o peso de aspectos como simpatia, apreço, admiração e fidelização passa a ser muito maior na formação do valor de produtos e serviços.
Quando começou o movimento virtual das redes sociais, muito se escreveu sobre o assunto alertando as empresas para o efeito cascata e viral de seus “malfeitos”. Pois nada do que foi previsto ocorreu. Empresas e personalidades públicas pegas com seus “malfeitos”, seguem incólumes.
Desde os anos 80 tenho por hábito tentar me comunicar com empresas, jornalistas, articulistas, autores, professores, políticos e governos. Sempre busquei reclamar, elogiar (é o mais importante) e fazer sugestões. Não é uma tarefa grata. O percentual de respostas às minhas observações sempre foi baixíssimo.
Claro, fiquei esperançoso quando a Internet se instalou de vez. Mais ainda quando o conceito de CRM (Custumer Relationship Management) virou notícia com programas específicos para o atendimento às expectativas dos clientes\consumidores. Em vão. No Brasil, os SAC (Serviço de Atendimento ao Cliente) respondem muito mal àqueles que os procuram.
Só nos últimos sessenta dias,fiz contato com diferentes empresas em razão de seus produtos ou serviços. Entre os contatados, sempre via Internet,no“Fale Conosco”, estão duas empresas de cosméticos, uma empresa de transportes aéreos, uma revista semanal e um hospital privado. NENHUM deles ao menos respondeu um formal “Obrigado por sua mensagem, faremos contato em breve”.
Devo dizer que os temas, sempre colocados de forma sucinta, eram de seu absoluto interesse. Nada, mesmo assim.
Hoje li uma notícia que me arrepiou. O historiador britânico Niall Ferguson lançou neste ano um livro sob o título “The Great Degeneration” (A Grande Degeneração), no qual ele vê uma decadência institucional no Ocidente. Na sua perspectiva os EUA caminham rapidamente para o “Estado Estacionário” que, na visão de Adam Smith, se traduz em um país que era rico, mas que parou de crescer, onde uma elite rica explora leis e regulamentos em detrimento de empresas e indivíduos, e onde, também, o agravamento de desigualdades pode levar à convulsão social.
O que alivia esse quadro mais próximo das aventuras de Ivan o Terrível, é que o consultor Harold Sirkin, do BCG (Boston Consulting Group) traça uma perspectiva diferente. Ele diz que a “consciência chinesa” vem elevando os salários naquele país comunista resultando num custo maior de seus produtos. Com isso os EUA vêm retomando algumas produções que se lhes escaparam entre os anos 90 e 2000 por conta da globalização. E retomando o crescimento. E o crescimento do mais desenvolvido país ocidental há de ser bom para todos. Desde que saibamos negociar.
É um cenário melhor na economia. Mas o espírito das empresas em relação aos seus clientes\consumidores parece estar mais alinhado com a visão pessimista do historiador inglês.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Dificuldades mercadológicas

Todas as ações, ou ausência delas, que amofinem a vida do consumidor têm resultado direto na imagem das marcas. Por “marcas”, entenda-se neste texto, além daquelas que identificam produtos ou serviços, também o setor público ou aquelas instituições sem fins lucrativos. Vejamos então. O que pode amofinar mais um consumidor do que uma embalagem complicada, que não abre ainda que sigamos as instruções contidas no rótulo? Consumidor de biscoitos (bolachas) salgados, tenho vivência na frustração das tentativas de abrir corretamente alguns pacotes simplesmente puxando a lingueta com uma seta onde está escrito “Abrir”. Em vão. Em geral a fita se quebra antes de completar a abertura e se você não tomou alguns cuidados pode ter uma indesejada avalanche dos primeiros biscoitos e todo aquele farelo indesejável que cai. Conheço apenas uma marca que escapa a isso: a Piraquê, que é fabricada no Rio de Janeiro... E aqueles sachês de molhos que são utilizados em lanchonetes? Sim, aqueles também têm uma indicação “abrir”. Mas aí você tenta, tenta e corre o risco de lambuzar-se de catchup ou mostarda. Ou simplesmente não conseguir abrir. Alérgico que transmitiu parte disso aos filhos, sempre fui um consumidor de solução de cloreto de sódio, sobretudo em tempos secos de outono\inverno, como esse pelo qual passamos agora com menos de 30% de umidade do ar. Pois bem, um desses produtos, que à época vinha embalado em vidro, tinha um anel de alumínio para proteger a tampa. Ah, foram vários cortes nos dedos, em geral sob uma das unhas, na tentativa de abrir aquele negócio. O anel sempre se quebrava antes de romper e era preciso recorrer a um instrumento qualquer para completar a ação. E os manuais de instrução? Melhor não entrar no assunto. Nos tempos atuais, de tantos aparelhos eletrônicos, o descaso com esses folhetos é flagrante. Os fabricantes parecem apostar na curiosidade natural dos consumidores diante dessas novidades. Assim, para que caprichar na tradução ou na impressão completa do manual? “Deixemos a criatividade do brasileiro fluir” devem justificar-se eles... Já nos serviços públicos, não é preciso bater na tecla do mau atendimento na saúde ou na segurança. Fiquemos na sinalização das ruas. Falo da maior e mais desenvolvida cidade do país. Os autóctones andam bem e pouco se dão conta da falta de sinalização. Ah, mas basta que você busque uma área desconhecida como destino e verá, mesmo com o GPS, que não temos placas indicativas de direções. Numa avenida longa, por exemplo, o motorista fica inseguro por não saber quanto falta para chegar ao ponto onde deve mudar de direção. E nem sempre o GPS está atualizado. Pessoalmente, confio mais no GPEsso, parando num posto de gasolina e perguntando. Pior mesmo é quando a placa fica em cima do local da convergência e o motorista não tem tempo de acessar a faixa para fazer a manobra. Ainda sobre os serviços públicos, podemos falar dos banheiros públicos que não existem em São Paulo. Nelson de Abreu Pinto, presidente da Federação de Hotéis Restaurantes, Bares e Similares do Estado de São Paulo, disse uma vez, com razão, que os bares e restaurantes eram os banheiros da cidade. Isso foi dito lá no começo dos anos 90. E nada foi feito nessa direção pelos prefeitos que comandaram a cidade. A mesma pergunta fazem os estrangeiros que visitam o litoral brasileiro: por que as praias não têm banheiros? Ah, somos assim, leves e meio selvagens, fazemos xixi na boa ali na água e o número 2, bem aí não sei... Na próxima vez que você for mal sucedido ao abrir uma embalagem, grave bem a sua marca. E na próxima eleição, lembre-se desses prefeitos e governadores que não fazem a lição como deveriam fazer. Já será um começo.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Das telas às ruas

Em janeiro de 2012 um vídeo promocional de uma construtora no estado da Paraíba, ganhou fama sob o título "Só faltou a Luíza que está no Canadá" e teve, em menos de trinta dias, 4.971.331 acessos na Internet. No mesmo período, o programa Big Brother Brasil, da Rede Globo, levantava uma questão sobre um possível estrupo entre os seus participantes. No dia 19 daquele mês e ano, o conhecido jornalista Carlos Nascimento, então âncora de um telejornal no SBT, disse em seu editorial: “Ou os problemas brasileiros estão todos resolvidos ou nós nos tornamos perfeitos idiotas. Porque não é possível que dois assuntos tão fúteis possam chamar a atenção do país inteiro. Primeiro um programa de televisão em que se discute um estupro, que por si só já é um absurdo, negado pelos dois protagonistas. Segundo uma pessoa que ninguém conhece vira uma celebridade na mídia somente porque o nome apareceu milhões de vezes na internet. Luiza já voltou para o Canadá e nós já fomos mais inteligentes” O desabafo do jornalista faz sentido. São milhões de acessos e divulgação de fatos e episódios sem a menor importância cultural, política ou científica que entopem as redes da Web movimentando, digitalmente, uma geração ávida de acontecimentos e de amigos virtuais. A Internet se tornou um grande fórum de grandes bobagens. E também de coisas sérias. O problema é que as bobagens são numericamente muito maiores do que as sérias. As redes sociais como o Facebook têm sua utilidade. Eu mesmo já resgatei relações de décadas através da rede. Sua capilaridade e comunicação em tempo real que nos alerta pelo telefone que postaram algo que pode nos dizer respeito é algo “futurista”, se pensarmos no início da Internet lá por 1994, aqui no Brasil, quando os chats de conversas eram um grande avanço. Com tantos recursos para uma conexão permanente que permite fiquemos plugados diuturnamente, as últimas gerações entraram num convívio virtual muito maior do que o convívio pessoal. Na primeira semana deste mês de junho de 2013 vi num telejornal que um bar paulistano criou um copo para cerveja ou chope com um “degrau” na sua base. Para que os copos fiquem em pé é preciso que o cliente coloque sob eles o seu aparelho celular, cuja medida é exatamente a do degrau da base do copo. O propósito, segundo os donos do estabelecimento, é que as pessoas se falem pessoalmente e deixem o celular pelo menos no momento do happy hour. Também faz sentido. Não são poucas as críticas gerais às pessoas que ficam teclando o celular enquanto almoçam com amigos ou clientes. Além do mau gosto, isso reflete a falta de educação para com o outro. Volto às últimas gerações. Todo o movimento midiático que vem desde a “Primavera Árabe” e a cobertura de outros protestos mundo afora, vem formando um nexo na cabeça dessa gente que não lê nada em profundidade, não se interessa por temas políticos e cujos interesses são, modo geral, por temas que vão da música do momento aos fatos que ocorrem em suas tribos. Não, essas novas gerações não leem sobre temas como a “Primavera Árabe”. Sabem apenas que “jovens na rua conseguiram derrubar o ditador”. Então quando surge uma chamada para que eles participem e “ajudem a derrubar medidas autoritárias”, eles aderem em peso. A capilaridade da Web mais uma vez se mostra imbatível. Já a informação mais profunda, essa fica sempre de lado. A participação dessas gerações “de corpo presente”, contra “o Estado repressor”, é para eles animadora. Tira-os de suas telas e os leva ao palco. Eles viram tela. Aparecem no Youtube, na TV da família e, sobretudo, estão contra o Estado. Não é ruim a iniciativa. Os jovens saíram daquela luz hipnótica de suas telas e foram para as ruas, para o mundo real. E isso é bom. A questão mais séria aqui é que não sabem a quem estão servindo. Eles não têm ideia dos interesses por trás de tais mobilizações. Os organizadores desses movimentos não estão para negociações. Apenas impõem sua vontade. Sem alegações ou justificativas. Tampouco vão ao cerne da questão: por que as tarifas aumentam? Isso não importa. Ou voltam para os preços anteriores ou “a cidade para”. Existem muitas e boas razões a exigir protestos, em especial na saúde, na educação e na questão da corrupção. Tomem-se como exemplo os gastos para os grandes eventos da Copa e das Olimpíadas. O Brasil precisava disso? E a cidade de São Paulo, agora atrás de sediar a Expo 2020? Não temos outras prioridades? E por que esses movimentos não falam abertamente contra a inflação que cresce no governo do PT e que, em última análise é a responsável pelo aumento das tarifas? Mas os jovens não estão ligados nisso. O movimento nas ruas e a repressão gerada por ele é um negócio “irado”. Eles estão a sentirem-se participantes. Metem o pé nas vitrines, queimam as lixeiras, mandam pedras na polícia. A euforia está instalada. Os jovens, num país despolitizado e sem oposição, (re) começam a viver uma vida mais participativa. É um começo. Uma pena que não saibam a quem servem. E que seus organizadores, em São Paulo, buscam um cadáver contra os tucanos.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

A mídia no papel

Está sendo relançada hoje nos EUA, a revista “New Republic”, comprada pelo jovem Chris Hughes, 29 anos, em 2012 quando estava já nos seus estertores. Trata-se de um fato emblemático. A revista foi fundada em 1914 por Herbert Croly e Walter Lippmann e tinha uma linha editorial em defesa da classe média e do liberalismo do governo em suas intervenções dentro e fora de seu país. Em 1917 apoiou o movimento bolchevique e a derrubada da família imperial russa. Mas logo se deram conta da carnificina perpetrada por Stalin e deixaram de falar bem daquele novo regime. Na Guerra fria apoiou “a América”, mas foi combativa contra o Macarthismo, nos anos 1950. Nos anos 60 foi contra a guerra do Vietnã e nas tentativas de derrubada de Bill Clinton, esteve na defesa do então presidente. É uma revista nitidamente democrata. E nunca escondeu isso. Chris Hughes foi um dos fundadores do Facebook e deixou o sócio Mark Zuckerberg, com U$600 milhões no bolso, para dirigir a campanha digital de Barack Obama em sua primeira eleição. A foto dele mostra um menino quase franzino, ao que parece cheio de crenças e intenções. Bem sucedido na campanha de Obama (a primeira no mundo a usar de forma tão agressiva as redes sociais, o Twitter em especial) Hughes tem credibilidade para tentar reerguer esse veículo que foi semanal, passou a quinzenal e estava ultimamente só na Web. Ele a recoloca no mercado em papel e em múltiplas plataformas. A “new” New Republic tem um modelo de assinatura de U$34,97 por ano e que permite o acesso a todo o conteúdo impresso, versão para o celular e mais vinte assuntos da revista, incluindo o acesso ao áudio, uma inovação naquele veículo. Em suas entrevistas o jovem Hughes diz que “muita gente acredita que esse tipo de veículo está fora de lugar na América, que se é periódico é para ser popular e que primeiro tem que ter (ser) de entretenimento ou que, se é muito sério, precisa ter conteúdos bem separados e seletivos.” O jovem empreendedor diz também que acredita que “nossa hiper informação ainda está vibrando, mas não totalmente satisfatória.” “Nós acreditamos que ainda precisamos de um jornalismo que se preocupa em produzir e demandar longa atenção do leitor.” Por “longa atenção do leitor” ele quer dizer “pessoas que se interessam por notícias consistentes e análises críticas”. Isso parece resumir toda a questão desse seu investimento tido como corajoso, num momento em que grandes veículos vêm sendo fechados e quando o jornalismo sério busca caminhos para ganhar interesse de um público que lê pouco, quer ler textos concisos e cujo interesse, lá como cá, pelos grandes temas, parece em segundo plano. Nada ilustra melhor isso do que a postura da revista que ele acaba de comprar: em 2007, passando de semanal para quinzenal, os então editores optaram por uma diagramação que, diziam, era para o “leitor amigo”: grandes fotos e pequenos textos. O aspecto mais importante nessa questão da mídia impressa versus a mídia digital não é, na verdade, o papel ou a periodicidade. Trata-se do interesse pela leitura de algo que efetivamente dê ao leitor uma visão crítica sobre os fatos para que ele possa formar sua opinião. E isso não acontece com notas curtas de 140 GC. Não mesmo.