Em 2015 visitei Búzios, litoral fluminense.
De há muito ouvia falar do lugar como um centro badalado,
cheio de turistas estrangeiros e onde, lá nos anos 60, Brigitte Bardot, a
estrela francesa de sucesso na época, passava suas férias de inverno europeu.
Entre
as tantas recordações, a cidade ganhou até uma escultura da figura da sensual
atriz francesa.
O
litoral fluminense, a Região dos Lagos, foi notícia nos anos 60/70. Em Cabo
Frio, por exemplo, na Praia dos Ossos, em 1976, “Doca” Street matou a tiros a
namorada Ângela Diniz, socialite mineira que teria se interessado por uma moça
alemã que conhecera na praia. Eram tempos de revistas semanais cariocas que
vendiam esse mundo, então glamoroso, das terras fluminenses.
Mas
volto à minha visita a Búzios, em 2015.
Para
percorrer os 44 km entre Rio das Ostras e Búzios, gastei quase uma hora.
Começa-se
pela RJ 106, entrando depois na RJ 102.
A
viagem foi um jogo de vídeo game. Sem acostamento ou sinalização, enfrentei
ultrapassagens proibidas, entradas e saídas da pista sem o menor aviso e
rapidez na direção para escapar dos buracos.
Enfim
na cidade, busquei na praia central a estátua de Brigitte Bardot.
-
Danificaram senhor. Foi para o conserto há uns seis meses.
Foi
a explicação que me deram.
As
ruas sujas e a gastronomia com nada de especial. Como nada especiais eram as
fachadas das lojas, com seus painéis de anúncios, de grande poluição visual.
Búzios.
Em
2016 a aventura foi visitar o que os fluminenses chamam de Região Serrana.
Para
chegar à Nova Friburgo, a partir de Rio das Ostras (e todos os que vêm da Região
dos Lagos) utiliza-se a RJ 142, conhecida como Serramar. Trata-se de uma
rodovia com 61 km de extensão e que liga os municípios de Casemiro de Abreu e
Nova Friburgo. É considerada como “Ecoestrada”, por percorrer os contrafortes
da Serra do Mar.
Mas,
de novo. É uma estrada acanhada, claramente sem planejamento ou obras de
infraestrutura mínima. Não tem acostamento, não tem guardrail ou placas de
sinalização. Sobre a não existência do acostamento, não é uma força de
expressão. O asfalto acaba na maioria das vezes numa canaleta coberta de mato
ou simplesmente num barranco de onde se pode ver o fundo dos vales.
Se
não apresenta tantos buracos, em alguns trechos encontrei bancos de areia no
meio da pista.
-
Foi uma chuvarada forte em outubro que trouxe o desmoronamento para a pista. E
não removeram a terra até hoje.
Essa
a explicação de um nativo sobre aqueles murundus no meio da pista estreita. À
noite aquilo se transforma numa armadilha digna de Indiana Jones.
Lumiar
é uma vila turística no km 41 da estrada Serramar.
O
local tem uma pequena praça cercada de alguns restaurantes honestos e seu
entorno tem vários pontos de rios que servem para o que os locais chamam de
“banho de cachoeira” ainda que possam não apresentar uma queda d’água
expressiva. A paisagem é de muito verde.
Chegando
à área urbana de Nova Friburgo, o distrito de Muri é tido como um centro
gastronômico local. Mas as dificuldades permanecem.
A
rodovia que atravessa o distrito segue sem acostamento. As placas indicativas
para os restaurantes são poucas e não claras. E se é difícil estacionar nos
restaurantes, andar a pé beirando a estrada é uma roleta russa.
Mas,
mesmo sem acostamento, trevos de conversão e acesso ou placas indicativas de
atrativos turísticos (aquelas na cor marrom) o local é mais bem arrumado e mais
civilizado.
A
área urbana de Nova Friburgo é comprida. O centro comercial é limpo e
arborizado. As casas de pasto são simples e honestas.
No
distrito de Muri foi possível provar uma truta, também honesta, numa das casas
do circuito gastronômico.
As
pousadas ficam no que pode ser considerado o subúrbio da cidade. De novo, em
estradas sem acostamento, sem placas indicativas claras e com grande
dificuldade de acesso vez que a falta de acostamento, de trevos de acesso ou de
simples limpeza da beira da estrada, dificultam a vida do usuário.
Mas,
e as pessoas?
Ah,
sim.
Pousadas
e restaurantes geridos por pessoas agradáveis, hospitaleiras e quase
conformadas com o infortúnio da gestão pública de seu estado, o Rio de Janeiro.
Sobre
as placas de sinalização, por exemplo, me disse uma empreendedora local, que o
DER-RJ tirou todas as placas das pousadas da beira da estrada e cobrou multa
para a devolução delas. Não colocam sinalização oficial e tampouco conservam as
rodovias.
Sinal
de celular nas estradas? Risadas.
Socorro
mecânico? Resgate e assistência médica?
Risadas.
Em
plena passagem de ano, com aumento do tráfego, nada de policiamento nos trechos
pelos quais rodei. Nenhum mesmo.
Em
contrapartida, se comparados ao estado de São Paulo, os preços são muito mais
acessíveis.
Não
é um lugar para se voltar, pelo menos até que se conserte o mal que os últimos
governantes deixaram, ainda que sua paisagem seja agradável e sua gente
hospitaleira.
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