quinta-feira, 1 de março de 2012

Mulheres maduras

Entre 2008 e 2009, devorei boa parte da obra balzaquiana.
Honoré de Balzac não era um empreendedor e nas suas tentativas de ter negócios com gráficas e jornais, acabou um eterno inadimplente que contou com a ajuda de amigos e mulheres. Sua vida afetiva, cujas passagens aparecem em alguns dos personagens de seus livros, foi de muitas decepções. Mas, poucos talentos da palavra escrita trataram das mulheres com a sabedoria balzaquiana.
Falo de Balzac por que chamou-me a atenção como ele descreveu mulheres com mais de quarenta anos, cheias de vigor e disposição, no início do século dezenove. Claro, não eram mulheres do povo, da lida dura dos campos ou dos serviços nos burgos. Eram da elite francesa. Mas mesmo assim, estariam envelhecidas para os padrões da época. Não para Balzac. Não para a sua “Comédia Humana”. Não para as mulheres reais do mundo de hoje.
Amigas de minha geração mandaram dia desses, via Web, um texto sobre as pessoas com mais de meio século, sexagenárias. O texto traça um paralelo entre os adolescentes de meados do século vinte e os sexagenários do século vinte e um. Nos anos 1950, os adolescentes, até então sem espaço para o seu período de vida, ganharam foco com a valorização de sua idade, seus hábitos, seus modos e seu pensar. Eram os teens, ou os adolescentes. A situação dos homens e das mulheres de sessenta anos na segunda década do século vinte é parecida. Eles e elas têm força, idéias, hábitos, seus modos e seu pensar. Precisam de espaço e reconhecimento, e não de recolhimento. Não são idosos como prevê a lei ou as regras morais. São os sexalecentes.
Quisera eu ter frações mínimas do talento de Balzac para falar da energia, do frescor, da beleza, da experiência e da disposição da mulher com mais de meio século em tempos d agora.
Eu as encontro no trabalho, no Metrô, entre as amigas e na família. Tenho uma tia com quase setenta que esbanja seu charme até hoje seja nas festas de família ou nos países por onde, merecidamente, passeia com o marido.
O mercado demorou um pouco para reagir a essa tendência, a da longevidade e do vigor. Não faz muito tempo que as instituições começaram a valorizar gordinhas e senhoras com mais de cinqüenta anos. Vivemos mais, eis a realidade. Somos mais produtivos no mais amplo sentido. As mulheres casam-se mais tarde e vão procriar perto ou depois dos quarenta. Ainda há muito o que se produzir para esses segmentos no Brasil.
Claro, toda a conjuntura mercadológica existente acaba por produzir uma baixa acuidade mental/conceitual sobre beleza e sensualidade. O foco é sempre na juventude. Mas não é de hoje que as mulheres maduras têm seu espaço melhor definido. Elas vêm ganhando espaço popular nas novelas e são personagens fortes nos romances. Firmam-se na vida pública e na direção de grandes empresas. E ainda causam frisson no imaginário de maduros e dos jovens. São mulheres maturadas com qualidade.
Como os vinhos, podem ter aromas instigantes de cassis, com um leve toque de carvalho tostado; elegantes, com taninos maduros e macios, e um final picante.
Não cito nomes de amigas, colegas e familiares. Poderia pecar por omissão. Mas homenageio a todas com alguns nomes que representam o melhor das mulheres maduras: Diane Keaton, Merryl Streep, Helen Mirren, Ségolène Royal, Cassia Kiss, Beatriz Segall, Carmen Maura, e muitas, muitas outras...

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