Lá nos anos 1980, operadores de turismo e hoteleiros reclamavam sobre a possibilidade da aprovação da “Lei de Cabotagem”, que permitiria aos navios de bandeira estrangeira operar na costa brasileira. A argumentação era de que eles roubariam a demanda do mercado doméstico. Não era verdade. A lei foi aprovada, os navios chegaram, os portos não foram devidamente adaptados com estações de embarque/desembarque e a demanda, sobretudo da classe média, cresceu espantosamente para esses mini cruzeiros de quatro pernoites em média e paradas em pontos turísticos que seriam mais acessíveis por terra e ar. Além disso, com o volume de naves e turistas, a carga de muitos desses locais ficou acima da média comprometendo a qualidade dos serviços e, sobretudo, o meio ambiente. Mas vale a oportunidade de embarcar pelo menos uma vez na vida parcelando em dez vezes o pagamento.
A questão é a situação operacional dessas naves gigantes que parece nem sempre receber os cuidados necessários. Com gigantescas cozinhas e áreas de estocagem e sistemas de ar condicionado igualmente gigantes, essas cidades flutuantes compõem ambientes de grande oportunidade de hospedagem para os mais diferentes vírus e bactérias. Um território flutuante de “Oitavos Passageiros”. É o que se pode depreender das notícias sobre doenças intestinais que se manifestam em grupos de passageiros, registro de óbitos e surtos de gripes mortais nem sempre bem definidas. Pior, uma dessas máquinas gigantes da famosa Frota C, parou de funcionar em alto mar, numa conhecida zona de pirataria próxima à Costa Oriental da África e precisou ser rebocada. Dá para imaginar a aflição dos turistas embarcados sem luz, sem ar condicionado e com o risco dos alimentos sem refrigeração. E os banheiros?
O naufrágio do Costa Concórdia na costa italiana mostrou o amadorismo que permeia esses serviços. E na data em que escrevo, 08/03/2012, um navio que seguia do Chile rumo ao Reino Unido, está ancorado em Santos sem permissão para desembarque até que as autoridades da saúde possam descobrir qual a doença que acometeu vários de seus passageiros. Há poucas semanas uma tripulante brasileira de embarcação, também italiana, morreu de uma gripe inexplicável. Talvez só os dutos de ar condicionado, seus filtros e polias possam explicar isso.
Já o Hopi Hari, um empreendimento que surgiu na esteira de tantos outros projetos de parques temáticos no Brasil e que não foram bem sucedidos, protagonizou o mais trágico e vexatório noticiário sobre maus serviços. As investigações que começaram após a morte de uma adolescente no principal brinquedo do parque mostraram uma fragilidade abissal na operação daquele empreendimento de entretenimento e lazer. Um empreendimento que trocou de mãos várias vezes e acumula grandes prejuízos, aquele parque teve exposta sua incompetência. Acidentes acontecem mesmo nos grandes e famosos parques temáticos. Mas o treinamento e a segurança são itens com os quais não se trabalha amadoristicamente. Visitem os subterrâneos da Disney, por favor.
A lógica do mercado em turismo começou a ser praticada há pouco tempo no Brasil: preços acessíveis e grandes demandas. Por muito tempo, aviões e hotéis eram coisa para poucos. Mas essa lógica exige uma gestão pública mais eficiente, tanto na infraestrutura como na fiscalização e no cumprimento da lei. E isso não está acontecendo, colocando em risco a população que tem acesso a esses serviços.
Aposto que a demanda para a Copa do Mundo não será 50% daquilo que os otimistas esperam, mas mesmo assim, podemos imaginar o porvir no noticiário policial durante aqueles eventos.
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