domingo, 16 de maio de 2010

Copa e Olimpíadas: Isso é bom?

Se um estudo técnico com alguma profundidade fosse feito para determinar se é vantajoso para o Brasil fazer os investimentos necessários para os dois mega eventos World Cup 2014 e Rio Olympic Games 2016, provavelmente o resultado seria censurado pelo governo Lula. Não são poucos os casos dos países que receberam grandes eventos que exigem instalações especificas como as Olimpíadas e tiveram decepções na ponta do lápis. Claro, é possível falar do recall que tais eventos dão ao país que os hospeda. Mas será isso o bastante? Indo direto ao ponto: todo esse investimento que o governo fará em instalações resultará num retorno com alguma proporcionalidade para a atividade econômica do turismo? Quantas obras ficarão abandonadas depois dos jogos, como aconteceu no Pan? Claro que a Copa e as Olimpíadas vão gerar empregos nos períodos de suas realizações. Haverá um bom movimento e uma boa receita. Mas será proporcional aos investimentos? Com certeza temos outras prioridades, mesmo no turismo, para ganharmos espaço e recall internacional. Só para lembrar: rodovias boas, aeroportos, ferrovias e...segurança. Por outro lado, um evento do porte das Olimpíadas no Rio soa até como uma provocação. Sim, vai dar certo. Mas a que preço?

domingo, 9 de maio de 2010

Sergio de Paula Santos

No começo dos anos 1980 conhecer vinhos não era ainda uma habilidade que agregava charme aos executivos, pelo menos para a grande maioria deles. À época a Almaden ganhava o mercado nacional tranqüila em razão das altas taxas para a importação de qualquer tipo de produto pelos brasileiros. O SENAC era um dos poucos espaços, senão o único, que oferecia a oportunidade para que os leigos se aproximassem do bálsamo de Baco. Aristides de Oliveira Pacheco, um enólogo autodidata com curso de gestão hoteleira em Lausanne, Suíça, era o colega que fazia a ponte com os enólogos das diferentes bandeiras nacionais e estrangeiras. As publicações sobre o tema inexistiam no Brasil e o seu pioneiro foi um médico otorrino, cinqüentão e viajado que apreciava e conhecia de vinhos para discutir com os enólogos das vinícolas. Era o doutor Sergio de Paula Santos que participava dos eventos, dava sua contribuição e fazia questão de enfatizar que escrevia sobre vinhos porque entendia que o brasileiro deveria se iniciar nesse saudável hábito de uma taça diária da bebida. Depois daquele início de década, Paula Santos lançou mais oito livros, sempre sobre enogastronomia e colecionou palestras, certificados, bons amigos de confraria e, sobretudo, vinhos e livros sobre esses temas: boa comida e bons vinhos. Sergio de Paula Santos deixou esse mundo aos 80 anos no dia 04 de maio de 2010. Os amantes do vinho têm uma dívida para com ele, que foi precursor de um tema sobre o qual muita gente hoje em dia, fala muito e sabe pouco.

terça-feira, 27 de abril de 2010

HABIB´S

O Estadão de 26 de abril trouxe matéria de uma página em seu caderno de “Negócios” sobre o Habib´s, o genuíno fast food brasileiro. O tema vale a matéria e eu escrevi sobre a rede no meu livro “Introdução ao Universo da Hospitalidade”, publicado pela Papirus em 2005. A rede é um produto do empreendedorismo do médico Alberto Saraiva que assumiu a padaria da família num traumático momento quando o pai foi assassinado, vítima de um assalto ao seu estabelecimento. A visão inicial de Saraiva para a padaria foi a de focar no público de menor renda e vender pão barato. Essa visão estratégica nunca mudou e foi o que alavancou a sua rede por todo o país com alta tecnologia na produção de alimentos e rigor na gestão dos franqueados. A matéria mostra um empreendedor centralizador, bem sucedido e que hoje arruma a governança de seus negócios rumo à Bolsa. Os números do Habib´s são impresionantes como, por exemplo, 18 mil empregados e 600 milhões de esfihas por ano. Além disso, ao tentar resolver os próprios problemas acabou por entrar nos negócios de toda a cadeia do fast food e hoje mantém uma indústria de pães e sorvetes (Arabian Bread); uma empresa de Call Center (Voxline) com 2,4 mil empregados prestando serviços para grandes empresas; um laticínio (Promilat) que processa 130 mil litros de leite por dia; uma agência de publicidade (PPM) que faz as peças e campanhas do grupo; uma empresa de arquitetura (Vector 7) que projeta e decora lojas; uma imobiliária (Planej) que trata dos negócios imobiliários do grupo, e uma agência de viajens (Bib´s Tur) que atende o público externo. Pode-se não gostar do jeitão das lojas e dos seus produtos (o pastel português é imbatível e foi uma criação “imposta” pelo Saraiva contra todos os seus colaboradores e que deu certo) mas há de se reconhecer que Alberto Saraiva é um empreendedor que, como Amaro Rolim (in memorian) criou uma empresa que, como a TAM, “tem orgulho de ser brasileira”.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Praça de Alimentação

Nos anos 1980 o Shopping Eldorado, na zona Sul de São Paulo, foi o pioneiro ao estabelecer em definitivo, no país, o conceito de praça de alimentação. Era um modelo arquitetônico absolutamente estadunidense no qual até as medidas dos móveis e banheiros vieram no padrão do Tio Sam e mereceram reparos posteriores. O sonho da família Veríssimo não era pequeno. Aquela pirâmide de concreto e vidro deveria receber ainda um hotel que completaria a grande estrutura de compras, alimentação, lazer e entretenimento. Era o que eles pretendiam com uma grande casa de show, diferentes restaurantes, um moderno Saloon, cinemas e o Parque da Mônica. Infelizmente o projeto tomou outros rumos e o mercado de Shoppings também cresceu de forma espantosa. Quase 30 anos depois, quando o mundo todo tem o conceito de praças de alimentação em estações ferroviárias, rodoviárias e aeroportuárias, além de museus, prédios antigos e tombados, universidades e instalações militares (a Burger King montou lanchonetes para a o US Army nos front atuais) alguns especialistas começam a advogar a volta de ambientes fechados para essas praças. Explico. Eles alegam, corretamente, que há um tipo de cliente que precisa de alguma privacidade no seu almoço, ainda que esse tenha que ser rápido. De fato, numa praça de alimentação, por mais chique que possa ser o ambiente, não se pode falar em privacidade e muito menos em silêncio. Os grandes ambientes fazer reverberar o som e a correria entre 11am e 02pm torna impossível a concentração para uma conversa de negócios. Li uma vez um artigo de um francês que comparava as praças de alimentação aos banheiros públicos masculinos, com as pessoas esperando com ansiedade que o outro desocupe o lugar. A tendência pode voltar nas regiões geograficamente mais abastadas freqüentadas por executivos que garantam essa demanda. O fato é que o conceito de praças tem um princípio fundamental que é a maximização (e compartilhamento) do espaço que permite, em tese, o benefício de um menor custo por Mt2 por restaurante que se traduz no menor preço para o cliente. Há uma tecnologia de produção, pré-preparo, manipulação e entrega dos alimentos nesse sistema. A qualidade dos pratos pode ser possível sem o conforto do espaço privado que é compensado pelo preço. Simples assim, mas nem tanto. As praças são desconfortáveis e os alimentos são caros. Na verdade, o que as cidades brasileiras precisam mesmo é resgatar o espaço público das ruas. Quando elas forem mais seguras, menos poluídas e com paisagismo adequado, as praças poderão ter outro significado.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Brasileiro gasta no exterior

Deu no Estadão, assinado pelo jornalista Fernando Nakagawa: os brasileiros gastaram no mês de janeiro deste ano R$1,2 bilhão em viagens para o exterior. Essas despesas compõem 31,6% de todo o déficit de transações correntes do mês. O jornal diz que nos anos 1980, o porcentual dos gastos com turismo representava 3% do déficit. Para se ter uma idéia do aumento das viagens e volume de gastos, em fevereiro de 2009, o gasto foi de US$553 milhões ou R$985 milhões aproximadamente. O aumento porcentual de um ano para o outro foi de 72,4% e corresponde a um gasto de US$27 mil por minuto/brasileiro no mês de janeiro de 2010. Dá para se imaginar gastando esse dinheiro? É bem capaz que nem mesmo os cartões corporativos do Planalto alcancem esses números. A divisão desses gastos contempla 68% de gastos com cartões de crédito em pagamentos de hotéis, bilhetes aéreos, aluguel de carros, lojas e restaurantes. Pacotes de viagem e pagamentos em dinheiro compõem 28% das despesas. As viagens de negócios, pasmem, foram responsáveis por apenas 2,3% dos gastos. Educação e esportes tiveram 0,2% do total e por razões de saúde, apenas 0,1%. Em 2005 os negócios representavam 5,41% das despesas no exterior e a educação cravava 2%. Somem-se a essas despesas os investimentos que serão feitos para a Copa 2014 e para as Olimpíadas de 2016 e o rombo do turismo não terá fim, jamais. Basta dar uma volta pelo mundo e ver o que acontece com as instalações que foram feitas para hospedar eventos dessa natureza em diversos países e o que eles acham desse tipo de negócio. O governo federal tem discurso para a agricultura familiar mas se esquece do turismo para as pequenas comunidades.

quarta-feira, 3 de março de 2010

GANÂNCIA

A estabilidade econômica gerada pelo Plano Real há quinze anos atrás mostrou aos empreendedores brasileiros que é possível um ganho em escala também em nosso país. Acostumados com os ganhos da inflação, muitas empresas vendiam pouco por muito e para poucos. Assim era sobretudo com os serviços da aviação civil e os pacotes de turismo. O crescimento vertiginoso da inflação não permitia o uso de cartões de crédito e muito menos vendas a prazo. As mudanças que vieram com a estabilidade favoreceram uma “inclusão aérea e turística”. Nos últimos cinco anos essa inclusão começou a chegar também às classes D e E, com bons preços de bilhetes para viagens de avião a longo prazo, gerado pela concorrência entre as empresas. Levadas pelo otimismo com a demanda, essas mesmas empresas já se mostram gananciosas. A “6ª Pesquisa Anual de Conjuntura Econômica do Turismo” realizada pelo Ministério do Turismo em parceria com a FGV mostrou que as empresas do setor de aviação pretendem reajustar as tarifas em 9,2% em relação a 2009. A explicação é a de que no ano passado os preços do segmento caíram 4,1%. É curiosa essa reação uma vez que o aumento da demanda pode ter acontecido exatamente pela queda de preços gerada pela concorrência. Para atenuar essa posição o setor acena com um aumento da empregabilidade por volta de 4,9%. E daí?

segunda-feira, 1 de março de 2010

O mundo da Alimentação

No começo dos anos 1990 eu participava, em Washington DC, de um evento Latino americano de educação em hospitalidade quando um dos participantes nos convidou para visitar o Departamento de Comércio dos EUA para entender sobre as tendências da área de serviços e do turismo. Foi surpreendente o pequeno número de técnicos que eram responsáveis pela coleta de informações e pesquisas daquele departamento de Estado. Eles contavam com pesquisas de universidades e serviços terceirizados. O que me marcou da visita foi a tendência de crescimento para o setor de alimentação previsto para a próxima década: cerca de 80%, no mundo. A senhora que nos atendia ainda brincou com a situação: “80% de qualquer coisa é muita coisa”. Desde então a proliferação de praças de alimentação, restaurantes e serviços de entrega de comida pronta em escritórios e residências foi estonteante. Tomemos por base a cidade de São Paulo. O que tínhamos em 1990 e o que temos hoje? Segundo pesquisa da Associação Brasileira da Indústria de Alimentação (ABIA) comer fora de casa no Brasil gerou o movimento de R$58 bilhões em 2009 e deve crescer mais 10% neste ano de 2010. Outra pesquisa, da GFK Brasil, mostra que 51% da população come fora de casa com regularidade sendo que 23% fazem isso todos os dias, incluindo os finais de semana. A pesquisa mostra ainda que o gasto semanal per capita no Brasil é de R$67,13 no almoço e R$76,77 no jantar. Esses números tendem a um crescimento maior, ainda não estimado, por conta dos dois grandes eventos que o país vai hospedar em 2014 e 2016, a Copa do Mundo e as Olimpíadas, respectivamente. Certamente, vinte anos depois da previsão do Departamento de Comércio estadunidense, o setor possivelmente tenha crescido mais de 80%. E 80% de qualquer coisa, são mesmo muita coisa...