quinta-feira, 8 de abril de 2010

Praça de Alimentação

Nos anos 1980 o Shopping Eldorado, na zona Sul de São Paulo, foi o pioneiro ao estabelecer em definitivo, no país, o conceito de praça de alimentação. Era um modelo arquitetônico absolutamente estadunidense no qual até as medidas dos móveis e banheiros vieram no padrão do Tio Sam e mereceram reparos posteriores. O sonho da família Veríssimo não era pequeno. Aquela pirâmide de concreto e vidro deveria receber ainda um hotel que completaria a grande estrutura de compras, alimentação, lazer e entretenimento. Era o que eles pretendiam com uma grande casa de show, diferentes restaurantes, um moderno Saloon, cinemas e o Parque da Mônica. Infelizmente o projeto tomou outros rumos e o mercado de Shoppings também cresceu de forma espantosa. Quase 30 anos depois, quando o mundo todo tem o conceito de praças de alimentação em estações ferroviárias, rodoviárias e aeroportuárias, além de museus, prédios antigos e tombados, universidades e instalações militares (a Burger King montou lanchonetes para a o US Army nos front atuais) alguns especialistas começam a advogar a volta de ambientes fechados para essas praças. Explico. Eles alegam, corretamente, que há um tipo de cliente que precisa de alguma privacidade no seu almoço, ainda que esse tenha que ser rápido. De fato, numa praça de alimentação, por mais chique que possa ser o ambiente, não se pode falar em privacidade e muito menos em silêncio. Os grandes ambientes fazer reverberar o som e a correria entre 11am e 02pm torna impossível a concentração para uma conversa de negócios. Li uma vez um artigo de um francês que comparava as praças de alimentação aos banheiros públicos masculinos, com as pessoas esperando com ansiedade que o outro desocupe o lugar. A tendência pode voltar nas regiões geograficamente mais abastadas freqüentadas por executivos que garantam essa demanda. O fato é que o conceito de praças tem um princípio fundamental que é a maximização (e compartilhamento) do espaço que permite, em tese, o benefício de um menor custo por Mt2 por restaurante que se traduz no menor preço para o cliente. Há uma tecnologia de produção, pré-preparo, manipulação e entrega dos alimentos nesse sistema. A qualidade dos pratos pode ser possível sem o conforto do espaço privado que é compensado pelo preço. Simples assim, mas nem tanto. As praças são desconfortáveis e os alimentos são caros. Na verdade, o que as cidades brasileiras precisam mesmo é resgatar o espaço público das ruas. Quando elas forem mais seguras, menos poluídas e com paisagismo adequado, as praças poderão ter outro significado.

Um comentário:

  1. Bela análise, esta. Sintética e suculenta, como podem ser algumas opções do chamado "fast food". Aliás, a oposição entre "fast and slow food", como se fossem os extremos qualitativos da gastronomia é uma falsidade conceitual. Os extremos que se opõem, de fato, seriam "good food" e "bad food"!

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