No começo dos anos 1990 eu era palestrante numa reunião de agentes de viagem do interior do Estado de São Paulo, em Ribeirão Preto, e falava sobre o que eu entendia como um nicho de mercado inexplorado que era promover o contra fluxo interior/litoral, levando turistas de São Paulo e Santos, por exemplo, para visitarem as cidades do interior. Eu dizia da importância de se mostrar as grandes fazendas, o famoso bar Pingüim e outros atrativos. Um dos presentes aparteou e disse que aquilo era complicado e que ele ganhava muito mais e sem esforço vendendo dois bilhetes ponto a ponto por ano, São Paulo/Lisboa, para o dono da padaria onde comprava todos os dias. O que diria esse mesmo agente em tempos d´agora?
Quando a Varig, um rebento espúrio do regime militar, dominava os céus do país e fazia da aviação um transporte para ricos, a cabeça dos agentes era daquele jeito. Hoje, quando os preços se ajustam melhor à realidade (o governo, oportunista, diz que a renda aumentou) todos podem viajar de avião. O que faz isso é a economia sem inflação, a concorrência nesse mercado, e a necessidade do ganho em escala. Esses eram fatores que a Varig desconhecia e morreu quando foi fatalmente contaminada pela concorrência de um mercado desregulado. Tomou.
O turismo brasileiro no século 21 entrou no modelo estadunidense, com o mercado doméstico aberto à classe C/D. Que bom para a economia! E para os agentes de viagem que souberam aproveitar essa boa mudança. A margem de contribuição mudou. Agora é preciso vender.
E muito.
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