1- Até a década de 1970, em plena ditadura militar, o uso de palavrões na literatura, no cinema e no teatro eram verdadeiros tabus. No teatro, foi missão de Plínio Marcos dar fim a essa bobagem e incorporar o palavreado próprio dos personagens e da época. Com os seus textos “Dois perdidos numa noite suja” e “Navalha na carne”, ele provocou muita polêmica à época. Desde então o teatro deixou de ter aquela linguagem casta dos textos antigos. O cinema e a TV, no entanto, se mantiveram mais “castos”. As legendas de filmes estadunidenses ou europeus traduziam castamente os xingamentos de "son of a bitch" como "bastardo" e “dane-se” para fuck you. A molecada ficava assanhada quando ouvia Jean Paul Belmondo dizer "Merde" e não viam legenda para traduzir aquilo. Hoje, no século 21, as novelas ainda mantêm essa linguagem casta em contraponto com as cenas de sexo que o público valoriza, hoje reforçadas pelas relações homossexuais. Tudo pode acontecer, mas não se pode falar “merda”, “foda-se” ou “filho da puta”. As novelas continuam se autocensurando e pondo na boca de seus personagens palavras absolutamente inverossímeis para as situações de conflito. Os seus personagens continuam falando “dane-se” e “aquele desgraçado”. Nem bandidão carioca fala “porra”, “Caralho” e outras preciosidades do baixo calão do português. E nos reality show? Sim, eles cortam os palavrões na edição, muito mais do que a fornicação que possa existir naquelas instalações. De onde vem esse puritanismo todo? É uma questão estética? Será que o grande público não sabe que nos filmes policiais estadunidenses os caras xingam o tempo todo e as legendas continuam “mornas”? Acho que isso tudo é uma grande besteira. Melhor a verossimilhança do linguajar chulo nos personagens que demandam essa característica do que ter que agüentar aquelas expressões chatas do mundo carioca que a Globo impõe ao país em suas novelas. Quando querem imitar nordestinos, paulistas ou gaúchos, os atores cariocas soam patéticos. Insisto que a questão me parece uma “opção estética” das TVs. Ontem, por exemplo, liguei a TV e lá estava o cara transando com a mulher no banheiro, numa cena convincente, bem feita. Se as crianças podem ver isso, qual o problema de ouvir os palavrões que estão nas suas ruas, nas suas escolas e, muitas vezes, em suas próprias casas?
2- Sempre há o outro lado da questão. Vejamos os textos de jornais e revistas. É claro que os autores escrevem sempre para o seu público num veículo que, supostamente, chega àquela parcela da população que se interessa por seus temas, por sua opinião e, portanto, pelas suas letras. Não são poucos os assinantes de veículos diários, semanais ou mensais que aguardam com alguma impaciência o artigo de seu cronista ou articulista preferido. Para alguns, aquilo que o sujeito escreve tem peso, às vezes sem uma análise mais criteriosa, sobretudo quando os seus escritos são de ordem política. Podemos tomar como exemplo a ira dos petistas contra o articulista Diogo Mainardi ou contra Arnaldo Jabor, muito embora esse último tenha defendido publicamente o José Dirceu, pouco antes do escândalo do mensalão. Da mesma maneira com que os radicais petistas odeiam esses escribas, os opositores dos “companheiros” aplaudem suas matérias. Em qualquer dos lados, sabemos, é preciso ter senso crítico e pesar um bocado o que se lê. Mas a questão aqui é o palavrão. O Jabor deu para usar nos últimos tempos “bosta” “merda”, “cagadas” e outras dessas palavras em seus textos. O mesmo já se deu com o sociólogo Roberto DaMatta. Uma vez num artigo no qual tratava do consumo de uísque, até me pareceu que ele escrevia meio “calibrado” pelo malte. Está aí um espaço no qual, me parece, não precisamos disso. Podemos manter o uso da norma culta sem essas expressões para esses leitores, por que não? Num país onde já se lê tão pouco, os textos dos periódicos são referência para que as pessoas exercitem a leitura e a compreensão dos textos. Ademais, é importante que esses leitores menos avisados percebam que um doublé de cineasta e jornalista como Jabor, ou um sociólogo como o DaMatta, são pessoas que podem falar muito de perto para o seu público sem todavia baixar no nível de sua linguagem.
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quinta-feira, 21 de julho de 2011
segunda-feira, 4 de julho de 2011
Novelas: criatividade e share
Circulou pela imprensa a opinião da atriz Regina Duarte sobre a repetição dos temas das novelas. Sim, Regina Duarte, a antiga “namoradinha do Brasil” diz que hoje se fazem remakes e reprises das boas novelas e raramente surgem temas que sacodem o mercado. Ela relembra que são poucos os novos sucessos (bem feitos) como, por exemplo, “A favorita” (do autor José Manoel Carneiro e outros com direção de Roberto Naar) e a atual “Cordel Encantado”. Ela tem razão. Não conheço a “Cordel”, mas “A favorita” teve o mérito de ter grandes viradas de roteiro, poucos e densos personagens e trama complexa. Desse ponto de vista, aquela novela tinha mais cor de séries estadunidenses do que novelão latino. Mas La Duarte sabe que a escolha das novelas, seus temas e personagens não estão necessariamente ligados à arte. Acontece, às vezes, como no caso das séries do tipo “Hoje é dia de Maria”, numa perspectiva experimental, porque a emissora é ponta, tem gente de grande sensibilidade artística e vontade de realizar. As parcerias mais recentes que derivam do e para o cinema, são um exemplo do que se pode fazer de bom. Vide “A mulher invisível”, “Divã” e as mais antigas como “O auto da compadecida”.
A repetição de temas e personagens e daqueles núcleos que mostram o subúrbio carioca ou a suposta classe emergente carioca são os que de fato dão mais audiência. E é ali que a Globo investe. As novelas, como sabemos todos, são guiadas por permanentes pesquisas qualitativas pelos resultados de grupos focais e opinião do povão nas ruas. Não há nada pior do que os textos de Glória Perez com os seus indianos ou árabes em ponte aérea e tramas lineares, ridículas. No entanto é esse o padrão que aumenta o share no horário e, portanto, o valor das cotas de patrocínio. É assim e continuará sendo.
Para compensar esses horários, para aqueles que não têm paciência para novelas, existem experiências que se consagram como “A grande família” e outras séries. E a Globo se sai tão bem nelas como nas novelas.
Já tive a oportunidade de ver o sucesso das novelas globais agitando países como Cuba e Portugal e preenchendo horários, com novelas antigas, descoloridas e mostrando Betty Faria ainda mocinha e cheia de curvas na Alemanha. A Globo é boa nisso. E é boa porque se alimenta de pesquisas e as leva a sério. Os atores crescem e ganham com as novelas e então partem para “fazer arte” no teatro e no cinema. Graças ao dinheiro das novelas. Graças ao bom share que as novelas proporcionam à Globo.
A repetição de temas e personagens e daqueles núcleos que mostram o subúrbio carioca ou a suposta classe emergente carioca são os que de fato dão mais audiência. E é ali que a Globo investe. As novelas, como sabemos todos, são guiadas por permanentes pesquisas qualitativas pelos resultados de grupos focais e opinião do povão nas ruas. Não há nada pior do que os textos de Glória Perez com os seus indianos ou árabes em ponte aérea e tramas lineares, ridículas. No entanto é esse o padrão que aumenta o share no horário e, portanto, o valor das cotas de patrocínio. É assim e continuará sendo.
Para compensar esses horários, para aqueles que não têm paciência para novelas, existem experiências que se consagram como “A grande família” e outras séries. E a Globo se sai tão bem nelas como nas novelas.
Já tive a oportunidade de ver o sucesso das novelas globais agitando países como Cuba e Portugal e preenchendo horários, com novelas antigas, descoloridas e mostrando Betty Faria ainda mocinha e cheia de curvas na Alemanha. A Globo é boa nisso. E é boa porque se alimenta de pesquisas e as leva a sério. Os atores crescem e ganham com as novelas e então partem para “fazer arte” no teatro e no cinema. Graças ao dinheiro das novelas. Graças ao bom share que as novelas proporcionam à Globo.
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