O Estadão de domingo, 18/07/2010 trouxe matéria sobre o consumo de marcas de vestuário no interior e cita cidades como Jundiai, Ribeirão, Araçatuba e SJ do Rio Preto.
Trata-se de uma constatação sobre um estilo de vida dos segmentos de alta renda dessas cidades que vêm, com o tempo, se moldando ao processo "globalizante" da informação e do consumo.
Esses segmentos com alto poder de compra sempre foram bons consumidores e viajantes, sobretudo nos tempos em que esse tipo de consumo era coisa para privilegiados uma vez que não havia crediário para bilhetes aéreos e passeios pelo exterior. A moda feminina nessas cidades, que tinham na pecuária e agricultura o cerne de suas economias, sempre foi atualizada. Isso acontecia já nos anos 1960/70 do século passado através das compras que esses segmentos faziam pessoalmente nas boutiques da então famosa Rua Augusta ou nas congêneres do Rio de Janeiro. Senhoras das sociedades locais que tinham prestígio montavam suas boutiques no interior trazendo essas novidades para aqueles que frequentavam os ambientes tidos como chiques nas suas cidades e que não dispunham de tempo e recursos para comprar em Copacabana no Leblon ou Augusta, suas próprias roupas. E ainda vendiam a prazo, o que facilitava a inclusão da pequena classe média no mundo dos pecuaristas endinheirados. Era o tempo de festas de debutantes.
Os anos 1990 ganharam a abertura dos portos e as senhoras das boutiques, em São Paulo ou no interior, puderam utilizar seus cartões de crédito no exterior, dividir seus bilhetes em dez pagamentos e aprenderam a ser sacoleiras de luxo em NYC ou nos Mall da Flórida. Viajam com uma pequena bagagem de mão e na volta vendem até as malas que abrigam suas compras. Globalizamos a moda via sacolas.
De há muito as cidades interioranas têm a sede de imitar as grandes metrópoles. Começaram erguendo edifícios verticais em cidades onde o valor dos terrenos era baixíssimo e permitia belas construções horizontais. Depois vieram os calçadões, a sede pelas lojas de departamentos, hoje traduzidas em Casas Bahia e outras do gênero. No ano 2000 os condomínios fechados, ruas especializadas em comércio e Shopping Centers fecharam o ciclo da "cara de cidade grande".
Diferente das cidades próximas a São Paulo e Campinas (Valinhos, Vinhedo, Sumaré, Atibaia, Bragança Paulista, Itatiba e Indaiatuba) que tiveram sua expansão urbana através de condomínios fechados e cuja característica dos moradores é a de stay at home people entendido como aquele morador que não sai de casa porque tem de tudo lá (home theater, quadra, piscina, churrasqueira etc.), os moradores de cidades como São José do Rio Preto, Presidente Prudente e Araçatuba, são frequentadores de seus bares e festas porque pertencem a uma sociedade mais ativa e de raízes com mais de meio século nas suas comunidades. Naquelas cidades todos sabem de tudo sobre todos. E se frequentam. Já os stay at home que estão perto dos grandes centros são vizinhos recentes, pouco se falam e, pior, na sua maioria, fazem um trajeto diário cansativo entre São Paulo e/ou Campinas e região e suas casas. A moda e o lazer estão mais fáceis e acessíveis para esses stay at home, cerca de 50 minutos do Iguatemi de São Paulo ou 20 minutos do mesmo Shopping em Campinas.
O dinheiro nessas cidades mais distantes da capital e ligadas à economia do setor primário fica na ponta da pírâmide, mas não é pouco. E a comodidade de obter os produtos de sonho de consumo das mãos de uma conhecida sem passar pelo trânsito, pelos demais riscos e ser atendida com tratamento pelo primeiro nome ou apelido, faz com que essas mulheres do interior promovam um comércio que para muitos pode parecer arriscado. Mas pode não ser, como mostra a matéria no arquivo anexo. Afinal, Kotler sempre disse que, mais do que satisfazer as necessidades do cliente, é preciso encantá-lo. Essa clientela, com certeza, está encantada.
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