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quarta-feira, 19 de maio de 2010
Trem Bala: é preciso?
Os jornais têm noticiado os caminhos para a construção do Trem Bala ou o Trem de Alta Velocidade, o TAV. O investimento tem sido visto como temerário pelos potenciais investidores pelo preço dos bilhetes versus o custo do investimento, nada menos do que R$34,6 bilhões. Um dado de grandeza para a comparação do investimento: a usina de Belo Monte é estimada pelo governo em R$19 bilhões e pelas empreiteiras em R$32 bilhões. Cada um que reflita sobre os benefícios de cada um desses investimentos, ressalvadas as questões ambientais e soluções alternativas de geração de energia. Bem, o TAV deverá rodar a 200Km/h e, portanto, cobrirá o trecho de 511Km entre Campinas, Viracopos, São Paulo (Campo de Marte) São José dos Campos, Barra Mansa, Rio de Janeiro (Galeão) em duas horas, descontadas as paradas. Tive a chance de viajar três vezes pela AMTRAK, empresa ferroviária estadunidense, entre Washington e Nova York. Carros muito confortáveis, aquecidos no inverno e refrigerados no verão. Largas poltronas com mesinhas que comportam bem a sua refeição, comprada no “carro Delicatessen” ou o seu laptop que pode ser ligado à tomada. Uma vez fui no carro de luxo, sem muita diferença com a desvantagem de que fica no final do comboio e joga um bocado. Nesse caso o diferencial é a refeição que lhe é servida, nos moldes (melhorado) das companhias aéreas. O AMTRAK, sem barulho e poucas paradas, faz o trecho de 360km Washington/Nova York em 2 horas e 45 minutos. Tem portanto, uma velocidade média de 146Km/h. Se formos levantar os custos de implantação de um e de outro investimento, com certeza, vamos nos deparar com grandes números. Com o trem podemos descer no centro das cidades sem o atropelo de esteiras de bagagem, sem scanner para o corpo e sem aquela distância de até R$100,00 de taxi preso no trânsito com arrastão de sobremesa. Podemos alegar que a AMTRAK está lá nos EUA desde o século 19 melhorando os seus serviços e que nós, que não os temos, devemos começar com um investimento moderno. Vá lá. Mas para que tanta velocidade? Ao final e ao cabo, se forem mesmo 200 quilômetros por hora, não será grande a diferença. As pessoas sabem como se programar e saberão utilizar um trem com menor velocidade analisando os benefícios que ele apresenta em relação aos aviões e aeroportos. Enquanto isso, aí vêm as estatais estrangeiras de olho nesse negócio que terá uma “chave de emergência” no contrato: se a demanda for fraca os investidores poderão baixar as tarifas e, portanto, pagar em maior prazo o financiamento. Do valor de R$34,6 bilhões, o governo brasileiro vai financiar 27,68%, colocar mais 3,46% de participação (Petrobrás, Previ e Cia) enquanto os japoneses ou coreanos ou franceses ou alemães ou muitos deles juntos, colocarão 3,46% e muita tecnologia. O valor teto definido pelo governo para a tarifa a ser cobrada é de R$0,60 por quilômetro, o que dá R$306,60 de Campinas ao Rio de Janeiro. Entre o Campo de Marte (SP) e a estação de Barão de Mauá (RJ) com 412,3km, o valor do bilhete seria de R$247,38, quantias nada competitivas com as empresas aéreas hoje. A vantagem de uma ferrovia normal como a da AMTRAK é que ela dispõe de trilhos e desvios e mantém o transporte de cargas nos períodos em que o tráfego de passageiros é menor, como a noite e finais de semana. Afinal, como podemos conceber uma ferrovia que não transporta cargas? Em qualquer sociedade do mundo, os que estão no topo máximo da pirâmide sempre vão se utilizar de transportes próprios. Por que têm pressa e porque, sabe-se lá, têm preconceitos com o transporte público que, de resto, nem sempre é agradável nos horários de pico. Em Paris, NYC, Berlim ou São Paulo. Esse último, abaixo da crítica. Então é assim: proponho uma concorrência para um trem rápido, de poucas paradas e que possa também transportar cargas. Um modelo AMTRAK já serve. Pode ser também um modelo do TGV francês, senão o meu amigo Hélcio vai dizer que sou americanófilo. Sim, o trem francês é uma boa solução e pode deixar também espaço para carga nos seus trilhos. Tanto faz. O importante é que as empresas venham investir e operar o negócio. Sem que gastemos essa montanha de dinheiro enquanto a saúde a educação soçobram. Por que por enquanto, só sobram idéias para a continuidade do lulismo.
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