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sexta-feira, 14 de junho de 2013
Das telas às ruas
Em janeiro de 2012 um vídeo promocional de uma construtora no estado da Paraíba, ganhou fama sob o título "Só faltou a Luíza que está no Canadá" e teve, em menos de trinta dias, 4.971.331 acessos na Internet. No mesmo período, o programa Big Brother Brasil, da Rede Globo, levantava uma questão sobre um possível estrupo entre os seus participantes. No dia 19 daquele mês e ano, o conhecido jornalista Carlos Nascimento, então âncora de um telejornal no SBT, disse em seu editorial:
“Ou os problemas brasileiros estão todos resolvidos ou nós nos tornamos perfeitos idiotas. Porque não é possível que dois assuntos tão fúteis possam chamar a atenção do país inteiro. Primeiro um programa de televisão em que se discute um estupro, que por si só já é um absurdo, negado pelos dois protagonistas. Segundo uma pessoa que ninguém conhece vira uma celebridade na mídia somente porque o nome apareceu milhões de vezes na internet. Luiza já voltou para o Canadá e nós já fomos mais inteligentes”
O desabafo do jornalista faz sentido.
São milhões de acessos e divulgação de fatos e episódios sem a menor importância cultural, política ou científica que entopem as redes da Web movimentando, digitalmente, uma geração ávida de acontecimentos e de amigos virtuais.
A Internet se tornou um grande fórum de grandes bobagens. E também de coisas sérias.
O problema é que as bobagens são numericamente muito maiores do que as sérias.
As redes sociais como o Facebook têm sua utilidade. Eu mesmo já resgatei relações de décadas através da rede. Sua capilaridade e comunicação em tempo real que nos alerta pelo telefone que postaram algo que pode nos dizer respeito é algo “futurista”, se pensarmos no início da Internet lá por 1994, aqui no Brasil, quando os chats de conversas eram um grande avanço.
Com tantos recursos para uma conexão permanente que permite fiquemos plugados diuturnamente, as últimas gerações entraram num convívio virtual muito maior do que o convívio pessoal. Na primeira semana deste mês de junho de 2013 vi num telejornal que um bar paulistano criou um copo para cerveja ou chope com um “degrau” na sua base. Para que os copos fiquem em pé é preciso que o cliente coloque sob eles o seu aparelho celular, cuja medida é exatamente a do degrau da base do copo. O propósito, segundo os donos do estabelecimento, é que as pessoas se falem pessoalmente e deixem o celular pelo menos no momento do happy hour.
Também faz sentido. Não são poucas as críticas gerais às pessoas que ficam teclando o celular enquanto almoçam com amigos ou clientes. Além do mau gosto, isso reflete a falta de educação para com o outro.
Volto às últimas gerações.
Todo o movimento midiático que vem desde a “Primavera Árabe” e a cobertura de outros protestos mundo afora, vem formando um nexo na cabeça dessa gente que não lê nada em profundidade, não se interessa por temas políticos e cujos interesses são, modo geral, por temas que vão da música do momento aos fatos que ocorrem em suas tribos. Não, essas novas gerações não leem sobre temas como a “Primavera Árabe”. Sabem apenas que “jovens na rua conseguiram derrubar o ditador”. Então quando surge uma chamada para que eles participem e “ajudem a derrubar medidas autoritárias”, eles aderem em peso. A capilaridade da Web mais uma vez se mostra imbatível. Já a informação mais profunda, essa fica sempre de lado.
A participação dessas gerações “de corpo presente”, contra “o Estado repressor”, é para eles animadora. Tira-os de suas telas e os leva ao palco. Eles viram tela. Aparecem no Youtube, na TV da família e, sobretudo, estão contra o Estado.
Não é ruim a iniciativa.
Os jovens saíram daquela luz hipnótica de suas telas e foram para as ruas, para o mundo real. E isso é bom.
A questão mais séria aqui é que não sabem a quem estão servindo. Eles não têm ideia dos interesses por trás de tais mobilizações. Os organizadores desses movimentos não estão para negociações. Apenas impõem sua vontade. Sem alegações ou justificativas. Tampouco vão ao cerne da questão: por que as tarifas aumentam? Isso não importa. Ou voltam para os preços anteriores ou “a cidade para”.
Existem muitas e boas razões a exigir protestos, em especial na saúde, na educação e na questão da corrupção. Tomem-se como exemplo os gastos para os grandes eventos da Copa e das Olimpíadas. O Brasil precisava disso? E a cidade de São Paulo, agora atrás de sediar a Expo 2020? Não temos outras prioridades?
E por que esses movimentos não falam abertamente contra a inflação que cresce no governo do PT e que, em última análise é a responsável pelo aumento das tarifas?
Mas os jovens não estão ligados nisso. O movimento nas ruas e a repressão gerada por ele é um negócio “irado”. Eles estão a sentirem-se participantes. Metem o pé nas vitrines, queimam as lixeiras, mandam pedras na polícia. A euforia está instalada.
Os jovens, num país despolitizado e sem oposição, (re) começam a viver uma vida mais participativa. É um começo.
Uma pena que não saibam a quem servem.
E que seus organizadores, em São Paulo, buscam um cadáver contra os tucanos.
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